Título: O eleitor vota num candidato e elege outro
Autor: Vasconcelos, Adriana ; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 23/02/2011, O País, p. 9
Dornelles apoia divisão do país em `distritões"
BRASÍLIA.
Para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a nova comissão encarregada da reforma política precisa definir um novo sistema de voto que garanta uma maior legitimidade da representação popular no Brasil. Na sua opinião, a questão mais urgente para o Legislativo é acabar com o voto proporcional adotado nas eleições para a Câmara dos Deputados. O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) concorda que se trata de uma distorção: - O eleitor vota num candidato e elege outro. E quem tem voto às vezes não se elege, e quem não tem se elege. Se não mudarmos o sistema proporcional para a eleição de deputados, cada partido vai buscar o seu puxador de votos -- disse Dornelles, sem citar o caso do deputado Tiririca (PR-SP). Com a adoção do sistema eleitoral majoritário, Dornelles defende que o território nacional seja dividido em "distritões", assim como sugere o vice-presidente Michel Temer. Nesse caso, cada estado seria um "distritão", onde os candidatos mais votados seriam eleitos. A ideia, porém, está longe de ser um consenso entre os 15 integrantes da comissão da reforma política. O senador Aécio Neves (PSDBMG), por exemplo, já adiantou que é a favor da adoção do sistema de voto distrital misto.
Toffoli: discussão para evitar "judicialização da política" Já o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) José Dias Toffoli, que preside a comissão de juristas que estuda mudanças no Código Eleitoral, destacou a importância da discussão da reforma política para que não haja uma "judicialização da política". Ele frisou que, desde a promulgação da Constituição de 1988, o Judiciário tem sido obrigado a tomar decisões sobre questões políticas. - E a Justiça Eleitoral existe, única e exclusivamente, para fazer a vontade do eleitor, livre da influência do poder econômico, livre do uso da máquina administrativa -- salientou Toffoli. Na Câmara, a comissão especial de reforma política só será criada na próxima terça-feira. Os líderes partidários, tanto da oposição, quanto da base aliada, avisam, no entanto, que essa reforma deve começar a tramitar pela Câmara, e a ser submetida à revisão do Senado, mas com os deputados tendo a palavra final. - É um tema dos deputados. O Senado pode revisar, mas a palavra final tem que ser da Câmara - destacou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves. Já o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), preferiu não polemizar. Maia informou ter acertado com Sarney que o debate será feito concomitantemente no Senado e na Câmara, e as duas Casas, no final, trabalharão conjuntamente. (Adriana Vasconcelos e Isabel Braga).