Título: Desmatamento e escravidão no rastro de carne, soja e madeira
Autor: Rodrigues, Lino ; Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 23/02/2011, Economia, p. 25

Por trás de cadeias produtivas contaminadas por desmatamento ilegal, ocupação irregular de terras e até trabalho escravo estão grupos econômicos que atuam em setores estratégicos, como carne, soja e madeira. Ainda que mais de 70 empresas desses segmentos sejam hoje signatárias de pactos setoriais e estejam empenhadas em monitorar suas cadeias produtivas, os crimes continuam ocorrendo, sobretudo na região da Amazônia, e envolvendo gigantes como JBS Friboi, Cargill, Bunge, Louis Dreyfus, Carrefour e Wal-Mart.

A contaminação da cadeia produtiva é o principal alvo do relatório ¿Conexões Sustentáveis ¿ Quem se beneficia com a destruição da Amazônia¿, que será lançado hoje, em São Paulo. O objetivo não é apontar culpados, explica Leonardo Sakamoto, da Repórter Brasil, uma das ONGs autoras do estudo, junto com a Papel Social. Ao levantar casos envolvendo fornecedores e varejistas, o estudo mostra que a cidade de São Paulo é a mais importante financiadora da devastação na Amazônia, por ser o principal mercado consumidor do país.

¿ Não há como divorciar a destruição desse bioma da dinâmica de funcionamento do maior centro urbano e produtivo do país ¿ avalia Sakamoto, admitindo que ¿o envolvimento das empresas tem sido fundamental no combate a esses crimes¿.

Gigantes como Cargill e Louis Dreyfus, líderes do agronegócio, compraram soja de um produtor rural de Mato Grosso da ¿lista suja¿ do trabalho escravo, em 2010. A Louis Dreyfus informou, segundo consta do relatório, que a ¿aquisição da soja foi um caso pontual¿. A Cargill justificou que ¿deveria haver um bloqueio desse produtor no sistema, o que não ocorreu nesse caso, e que impediria a compra¿.

A Wal-Mart, que, segundo o relatório, comprou carne oriunda de área desmatada do Pará, admitiu que considera ¿grave o resultado do estudo para reforçar e monitorar o cumprimento dos pactos empresariais, assim como para o pacto pela erradicação do trabalho escravo¿. Ainda que a JBS Friboi afirme que ¿não negocia com fazendas que configurem na lista de área embargadas pelo Ibama¿, o relatório constatou que a empresa comprou carne de área nesta situação em setembro.