Título: Esperança mundial
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 31/07/2009, Economia, p. 11

PIB do segundo trimestre indica que EUA devem começar a contribuir para recuperação da economia internacional

Imóvel à venda: setor imobiliário começa a dar sinais positivos

O governo dos Estados Unidos divulga hoje o resultado da economia no segundo trimestre do ano. Ainda no terreno negativo, o número vai confirmar a tendência cada vez maior de recuperação depois da mais grave crise internacional desde a Grande Depressão, nos anos 1930. Analistas estimam que o Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas do país, tenha passado por uma contração entre 1,1% e 1,5% de abril a junho. O desempenho é ruim, mas bem melhor do que os dois tombos recentes: -6,3% no último trimestre de 2008 e -5,5% no primeiro de 2009. Os economistas acreditam que os EUA, em recessão desde dezembro de 2007, já estão emergindo do buraco e já crescerão de julho a setembro, com o ritmo de expansão devendo aumentar daí por diante.

¿Sem dúvida, a economia norte-americana já bateu no fundo do poço. A grande discussão agora é o ritmo de recuperação, que deve ser lento pelos próximos seis trimestres, principalmente por causa do alto grau de endividamento das famílias. Isso impede uma elevação do consumo muito forte¿, avalia Francisco Pessoa Faria, analista da LCA Consultores. Ele reconhece que o resultado do segundo trimestre pode vir ¿um pouquinho melhor¿ do que a previsão da consultoria de contração de 1,5% (veja quadro), mesmo número apontado pelo consenso do mercado. As incertezas quanto à retomada nas contratações de empregados também atrapalham a reação. ¿O mercado de trabalho é o último componente a se recuperar.¿

O número a ser anunciado hoje pelo Departamento do Comércio é esperado com ansiedade pelo mundo inteiro. Os Estados Unidos ainda são responsáveis por um quarto da economia global e o único país com capacidade para, sozinho, dar fôlego à recuperação. A esperança de que a recessão internacional comece a refluir aumentou ontem após o Japão divulgar um bom resultado na produção industrial (leia abaixo). ¿As coisas melhoraram bastante nos últimos meses. Mas seria otimista demais imaginar que não haverá mais notícias ruins. Alguns indicadores ainda devem continuar vindo negativos, como o desemprego. O estado da economia continua bastante fragilizado¿, resume o economista Filipe Albert, da Tendências Consultoria.

Reação imobiliária

Albert projeta uma queda de 1,1% no PIB no segundo trimestre, com resultados positivos no setor imobiliário, origem de toda a crise de 2008. O segmento reagiu por causa das medidas do governo Obama para reduzir o endividamento dos mutuários e recuperar o preço dos imóveis. Na avaliação do analista, os cortes de impostos, a redução dos juros a zero e o controle da inflação liberaram renda para os americanos, o que está estimulando o comércio. A estimativa da consultoria é que o consumo das famílias anualizado deve crescer 0,4%, o que significa uma estabilidade de um trimestre para o outro. ¿Muita gente ainda está assustada, temendo perder o emprego. Então, a tendência é poupar boa parte dos rendimentos.¿

O pacote de Obama para gastar US$ 787 bilhões em obras e compra de serviços começou a fazer efeito, mas as exportações continuam a pesar desfavoravelmente por causa da queda da demanda internacional. Para Albert, as vendas externas dos EUA vão cair mais do que as importações, o que deve gerar uma contribuição negativa do comércio exterior, na formação do PIB, de 0,6 ponto percentual no ano. A Tendências projeta uma retração de 2,5% na economia em 2009 e um crescimento de 1% em 2010. A LCA prevê o mesmo desempenho até dezembro e uma expansão de 1,5% no ano que vem. ¿A crise está bem menos pior do que se esperava. O governo norte-americano conseguiu evitar a quebradeira dos bancos, cortou impostos e juros, injetou recursos no mercado e aumentou os gastos públicos. Isso foi o que salvou o mundo de uma catástrofe¿, afirma Faria.

O número US$ 787 bilhões Total do pacote do presidente Barack Obama para enfrentar a recessão

Produção alta no Japão

A produção industrial japonesa aumentou 8,3% no segundo trimestre em relação ao primeiro, o ritmo mais dinâmico dos últimos 56 anos. O dado foi divulgado ontem e trouxe alento de uma retomada da segunda economia mundial. A alta da produção no período abril-junho foi a maior desde 1953, e representou uma virada em relação à queda recorde de 22,1% registrada no primeiro trimestre do ano, indicou o governo.

¿É seguro que a taxa de crescimento do trimestre abril-junho vai melhorar significativamente¿, declarou ontem Tadao Noda, membro do comitê de política monetária do Banco do Japão, a um grupo de empresários. ¿Mas não podemos deixar de ser cautelosos¿, advertiu.

O Japão entrou em recessão no segundo trimestre de 2008, quando os consumidores dos mercados estrangeiros deixaram de comprar veículos, bens de alta tecnologia e outros produtos que propiciaram a recuperação econômica japonesa após a recessão dos anos 1990.

As montadoras, em particular, reduziram a produção e demitiram milhares de trabalhadores devido à queda da demanda, e recentemente se desfizeram de boa parte dos estoques e voltaram a expandir a produção. Ontem, a Associação de Fabricantes Automotivos do Japão informou que a produção automobilística japonesa caiu 34% ao ano em junho, menor do que a retração de 41,4% de maio.

Após a contração do PIB de 14,2% ao ano no primeiro trimestre deste ano, dados recentes apontam para uma recuperação. O superávit comercial cresceu em junho pela primeira vez em 20 meses, com a redução da queda das exportações. A produção industrial aumentou ainda 2,4% em relação ao mês anterior, após alta de 5,7% em maio. Os planos de estímulo nos Estados Unidos, na China e no Japão parecem surtir efeito, embora as preocupações sobre as perspectivas da economia continuem existindo.