Título: Daslu por R$ 1 mil
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 25/02/2011, Economia, p. 29

Fundo paga valor simbólico por ações da multimarcas de luxo paulista, que tem dívida de R$80 milhões

Ofundo Laep, do empresário Marcus Elias, vai pagar R$65 milhões para adquirir a marca e os ativos da Daslu, multimarcas de luxo de São Paulo. A proposta foi aprovada ontem à tarde durante assembleia com cerca de 200 credores (entre bancos e fornecedores) da butique. Só oito votaram contra a oferta. A Laep, que também comprou a Parmalat durante a fase de recuperação judicial, pagará R$21 milhões em dinheiro. Os outros R$44 milhões são referentes a uma dívida que a Daslu tinha com a própria Laep. Além de assumir a dívida com os credores, Elias desembolsará o valor simbólico de mil reais pelas ações da fundadora, a empresária Eliana Tranchesi.

Pela proposta apresentada ontem, a Laep ¿ representada pelas empresas Chipilands Holdings e Retail Participation, as duas com sede nas Bermudas ¿ assume todas as dívidas incluídas na recuperação judicial, no valor de R$80 milhões, com um desconto de 60%. Os credores vão receber em 72 parcelas, corrigidas pelo IPCA, com um ano de carência.

A oferta terá de ser homologada agora pelo juiz responsável pela recuperação judicial da Daslu.

¿ Foi o melhor que pudemos fazer. Salvamos empregos e mantivemos a marca no mercado ¿ avaliou o advogado da Daslu, Thomas Felsberg, responsável pela elaboração do plano de recuperação judicial da empresa.

Fundadora passará a ser franqueada

Vista como o templo do luxo no país e frequentada por políticos, celebridades e empresários, a Daslu começou a ter problemas em 2005, um mês depois de inaugurar sua megaloja com mais de 20 mil metros quadrados na Vila Olímpia: foi alvo da operação Narciso, quando mais de 250 policiais federais e fiscais da Receita Federal cercaram e invadiram a loja.

Eliana e seu irmão Antonio Carlos Piva de Albuquerque (na época diretor financeiro da empresa) foram presos e acusados por fraude em importações, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Em 2009, os dois irmãos foram condenados em primeira instância a 94 anos de prisão, pena que estão recorrendo em liberdade. Eliana ainda negocia com a Receita Federal uma dívida de cerca de R$500 milhões.

Elias é amigo pessoal de Eliana Tranchesi. O dinheiro investido por ele na Daslu desde a aprovação do pedido de recuperação judicial, em meados do ano passado, garantiu a manutenção da empresa até a sua venda.

Em comunicado ao mercado, a Laep afirma que a aquisição da Daslu é uma aposta no crescimento do consumo no Brasil e no desenvolvimento de uma das mais fortes e renomadas marcas do mercado de luxo. Segundo a nota, o faturamento médio estimado do grupo Daslu é de R$250 milhões.

Realizada em um hotel na Zona Sul de São Paulo, a assembleia durou cerca de cinco horas. Seu início foi tumultuado, quando um grupo de credores ainda reclamava a falta de um laudo de avaliação do valor da marca. A proposta de suspensão da sessão foi rejeitada em votação. Vencidas as primeiras resistências, os credores colocaram no plano a exigência de que até 4 de março o fundo defina com qual das duas lojas vai ficar. A Daslu tem o megacomplexo Villa Daslu, na Vila Olímpia, que hoje funciona parcialmente, e uma loja no Shopping Cidade Jardim. A tendência é Elias optar pela loja do shopping, segundo o advogado da empresa.

O plano prevê ainda a criação de duas empresas: uma chamada de Sociedade de Propósito Específico - Unidade Produtiva Isolada (SPE-UPI), que assume todas as dívidas com bancos, fornecedores e funcionários e passa a gerir a marca e uma das unidades, além de todo o estoque; e a outra, chamada ¿Daslu velha¿, que ficará com Eliana, que passará a franqueada (ela pagará royalties de 5% do faturamento).

Procurada, Eliana disse que ficou ¿muito feliz¿ com a aprovação do plano de recuperação e que vai estar diretamente envolvida no projeto de desenvolvimento da ¿nova Daslu¿.

¿ Fiquei muito feliz com a aprovação do plano. Vou estar junto com o Laep na expansão da nova Daslu para outras cidades brasileiras ¿ disse a empresária, que já disse a amigos que gostaria de vender seus produtos em outros estados, especialmente o Rio de Janeiro.