Título: Moradores em alerta com panes em Angra 1 e 2
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 25/02/2011, Economia, p. 37

Há desconfiança sobre eficácia dos planos de emergência

ANGRA DOS REIS e RIO. Com o desligamento, em menos de uma semana, das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, cresceram as preocupações de moradores da região com os planos de emergência para casos de acidente. O presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Frade, Evandro Vieira, disse ontem que boa parte da população de Angra dos Reis ficou preocupada com a pane nas usinas. Segundo ele, há uma desconfiança generalizada em relação ao planejamento de retirada de pessoas em caso de um acidente nuclear.

- Não acredito nas simulações de retirada que são feitas a cada cinco anos - afirmou Vieira, lembrando que a principal rota de fuga, a Rodovia Rio-Santos, apresenta péssimas condições em vários trechos.

Um levantamento realizado em 2010 pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) apontou 27 pontos de riscos de deslizamento na rodovia. Moradores cobram uma promessa feita pelo presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, em julho do ano passado, de que a Rio-Santos passaria por reformas e que várias quadras poliesportivas seriam construídas na região. Em caso de acidente, elas serviriam como pontos de pouso para helicópteros.

O subsecretário de Defesa Civil de Angra dos Reis, José Carlos Lucas, que é integrante do Comitê de Planejamento e Energia Nuclear (Copen), disse que o plano de retirada de emergência vem sendo incrementado. Ele destacou que oito sirenes de alerta foram instaladas na região e anunciou uma simulação para setembro.

- Trata-se de um plano totalmente confiável. Os moradores de Angra estão conscientes disso. Não posso afirmar que todos estão preparados, porque nunca dá para dizer isso. Veja o que aconteceu com as Torres Gêmeas, nos EUA - justificou.

Angra 2 deve ser religada no início da manhã de hoje

Angra 2, que foi desligada na terça-feira por conta de uma falha elétrica, passou por reparos e, segundo a Eletronuclear, deve voltar a operar no início da manhã de hoje. A decisão de reiniciar suas atividades neste horário tem por objetivo evitar a entrada da usina nuclear na rede nacional de distribuição em momentos de pico de consumo.

Técnicos informaram que precisaram paralisar os trabalhos em Angra 2 porque um equipamento de seu sistema elétrico apresentou defeito. A peça, produzida na Suíça, foi substituída e será analisada pelo fabricante. De acordo com a Eletronuclear, o problema não teve relação com o reator nuclear.

A unidade gerava 1.350 megawatts (MW) de energia quando ocorreu a pane. Menos de 24 horas depois, Angra 1, que produzia 625 MW, também foi desligada, por causa de uma falha em um equipamento que mede a pressão no prédio que abriga seu reator. A usina voltou a operar no início da noite de quarta-feira.

As unidades nucleares respondem a 30% do consumo de energia elétrica no Estado do Rio, e a suspensão da produção em ambas obrigou a Eletrobras a acionar quatro usinas térmicas a gás e aumentar a geração de várias hidrelétricas.