Título: EUA e Europa em busca de plano para frear Kadafi
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 25/02/2011, O Mundo, p. 38

Suíça congela bens, franceses pedem julgamento, e ONU não descarta sanções

NOVA YORK e RIO. As estimativas de milhares de mortes na Líbia deflagraram uma pesada ofensiva diplomática para impedir que o regime de Muamar Kadafi promova um banho de sangue no país. A violência dos enfrentamentos entre mercenários e manifestantes antigoverno levou o Conselho de Segurança da ONU a convocar uma reunião de emergência hoje - embora a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tenha decidido não intervir com ações militares. A Casa Branca também acionou a Europa - cujas relações com Kadafi são mais próximas que as dos EUA - para discutir a adoção de sanções, e até a historicamente neutra Suíça se apressou, sendo a primeira a anunciar o congelamento de quaisquer bens que o ditador e sua família tenham em seu território.

"O Conselho Federal condena fortemente o uso da violência do líder líbio contra a população", informou a Chancelaria suíça num comunicado.

A correria diplomática para frear Kadafi - e o financiamento de mercenários africanos que, segundo relatos, estariam recebendo até US$2 mil por dia para sufocar o levante - ganhou novas dimensões após a publicação de telegramas revelados pelo WikiLeaks, segundo os quais o ditador teria mais de US$32 milhões em bancos americanos.

O porta-voz da Casa Branca, Philip Crowley, limitou-se a dizer que os EUA estão determinados a "adotar novas medidas contra a Líbia" - incluindo apoiar a proposta europeia de expulsar o país do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

O presidente Barack Obama conversou com o francês Nicolas Sarkozy e com o primeiro-ministro britânico, David Cameron. Diante da demora da União Europeia em se pronunciar, tanto a França quanto o Reino Unido engrossaram a campanha retórica contra Kadafi, chegando a defender que o ditador seja julgado numa corte internacional.

- Quando um governo não é capaz de proteger sua população, quando a agride, a comunidade internacional deve interferir. Existe um Tribunal Penal Internacional, e os criminosos são responsabilizados diante dela - defendeu o ministro francês da Defesa, Alain Juppé.

Além da polêmica aprovação de sanções - método questionado por países como a Turquia, que alegam que seu resultado é nulo politicamente, afetando apenas a população, como nos casos de Irã e Iraque - uma das propostas em estudo seria a criação de uma zona de exclusão aérea sobre o território líbio, impedindo o trânsito de armas, recursos e mercenários.

- É preciso avaliar como a intervenção externa pode ajudar positivamente, sem ser vista como uma agressão. A zona de exclusão é tentadora, mas pode ser contraprodutiva. Além de dificultar a evacuação de civis, pode ser inútil sem uma ação militar por terra. E os EUA devem evitar passos que pareçam um rumo à guerra - disse ao GLOBO o pesquisador Andrew Exum, do Center for a New American Security, em Washington.

Embaixadora do Brasil na ONU pede mais informações

Segundo a embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Viotti, a reunião de hoje do Conselho de Segurança - cuja presidência é exercida este mês pelo Brasil - terá a presença do secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon. Após as críticas pela condenação à Líbia, emitida na terça-feira e considerada insuficiente, o porta-voz da missão americana, Patrick Ventrell, declarou que "todas as opções estão na mesa" para negociação.

- Também há necessidade de mais informações sobre o que está acontecendo - ponderou Maria Luiza Viotti, dizendo que o Brasil também está em consultas para se posicionar oficialmente.

Em Genebra, uma reunião extraordinária da Comissão de Direitos Humanos da ONU terá hoje o reforço da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.

Com agências internacionais