Título: Ruralistas em área ambiental
Autor: Braga, Isabel ; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 26/02/2011, O País, p. 3

Em meio à polêmica envolvendo temas ambientais, como o embate em torno das mudanças no Código Florestal, a bancada ruralista conseguiu ocupar espaços-chave nas comissões de Meio Ambiente do Congresso Nacional desta legislatura. Depois da escolha do deputado Giovani Cherini (PDT-RS) para a presidência da comissão na Câmara, no Senado a vice-presidência da comissão será ocupada pela presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Tem também como membro o latifundiário Blairo Maggi (PR-MT), considerado o maior produtor individual de soja do mundo.

Além de Kátia e Maggi, entre os 17 titulares e 17 suplentes da Comissão de Meio Ambiente do Senado há outros cinco senadores da lista dos que integram a bancada ruralista na Casa, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap): os peemedebistas Vital do Rego (PB) e Eunício Oliveira (CE), como titulares; e, como suplentes, Garibaldi Alves (PMDB-RN), João Vicente Claudino (PTB-PI) e Jayme Campos (DEM-MT).

Para os ambientalistas, não há surpresa na crescente cobiça dos ruralistas por espaço nas comissões ambientais. Novato na Câmara, Alfredo Sirkis (PV-RJ), se preocupa com a visão retrógrada de muitos ruralistas sobre como deve permanecer a atividade agropecuária no país.

- Muitos ruralistas têm uma visão bélica, são movidos à ganância e ignorância. Muitos sustentam que não existe aquecimento global, que é invenção das ONGs americanas - disse Sirkis.

"A reserva de mercado acabou", diz Kátia Abreu

O coordenador de políticas públicas do Greenpeace, Nilo D"Ávila, diz que mais preocupante é a escolha de parlamentares ruralistas para liderar partidos, citando o exemplo dos líderes do PSDB, Duarte Nogueira (SP), e do PDT, Giovanni Queiroz (PA).

- Nas comissões, os ruralistas vão tentar derrubar terra indígena, diminuir área de parque nacional, essas coisas. O que me preocupa é ocuparem lideranças de partidos que nunca tiveram. Mostra o aumento de sua força no colégio de líderes - observou D"Ávila.

A senadora Kátia Abreu diz que meio ambiente é tema de todos e que os ruralistas, antes pegos de surpresa, se prepararam e hoje o debate é de igual para igual com os ambientalistas. Ela reage aos ambientalistas que criticam a participação de ruralistas nas comissões de meio ambiente:

- O Congresso tem seus espaços. Os ambientalistas que procurem convencer seus partidos da importância de estar na comissão. Nós convencemos os nossos. O tempo da reserva de mercado acabou. Nós, ruralistas, convencemos a sociedade com nossos argumentos.

O presidente da comissão de Meio Ambiente do Senado, Rodrigo Rolemberg (PSB-DF), diz que a composição está equilibrada, lembrando que há representantes dos ambientalistas, como Jorge Viana (PT-AC) e Paulo Davim (PV-RN).

Na comissão da Câmara, Giovani Cherini, embora esteja na lista do Diap como um dos 160 ruralistas, o pedetista afirma não ser.

- Sou pequeno produtor no Sul. Não sei porque me classificaram como ruralista. Já pedi para eles (Diap) mudarem. Fui do sindicato dos trabalhadores rurais e defendo o cooperativismo - disse Cherini.

O diretor de documentação do Diap, Antonio Augusto Queiroz, afirmou que o critério é incluir na lista os que têm propriedade rural significativa. Segundo ele, Cherini foi incluído por ter laços fortes com o setor, mesmo que não integre formalmente a frente ruralista.

Cherini defende um novo debate em torno das mudanças no Código Florestal:

- Agricultores e ambientalistas não precisam ser inimigos. Não devemos ter agricultores predadores, nem ambientalistas de asfalto.

Na comissão especial criada na Câmara, na legislatura passada, para discutir mudanças no Código Florestal, tema mais espinhoso da área ambiental em debate, os ambientalistas eram tão poucos que os deputados do PSOL acabaram assumindo o papel protagonista do discurso verde. Alfredo Sirkis aponta a discussão sobre a modernização do Código Florestal como um dos temas-chave que serão tratados pelo Legislativo.