Título: No RS, impasse sobre morte de ex-vice-prefeito
Autor: Hofmeister, Naira
Fonte: O Globo, 26/02/2011, O País, p. 4

PORTO ALEGRE. Um ano depois o assassinato do ex-vice prefeito de Porto Alegre, Eliseu Santos (PTB), o caso ainda não tem uma conclusão definitiva. Era uma sexta-feira à noite e o político acabava de assistir, ao lado de sua família, a um culto evangélico em um templo no bairro Floresta. Ao entrar em seu carro, um Corolla, um homem aproximou-se e lhe deu dois tiros: o primeiro atingiu a canela do ex-vice prefeito, o segundo, seu coração. Antes de morrer, Eliseu Santos ainda revidou o ataque com sua arma particular.

Para a Polícia Civil, trata-se de latrocínio, hipótese que foi apresentada 17 dias apóss o crime. Dias depois, o Ministério Público Estadual desmontou as conclusões da Polícia Civil numa entrevista coletiva. A promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari estava convicta de que era um crime de execução e pediu o indiciamento de outras oito pessoas. Eliseu havia sido morto horas depois de o órgão oferecer uma denúncia sobre o esquema de propinas na Secretaria Municipal da Saúde (SMS), da qual ele também era o titular.

A sindicância para apurar irregularidades havia sido instaurada pelo próprio secretário e resultou no fim do contrato com a empresa Reação, responsável pela vigilância dos postos de saúde da capital gaúcha pelo pagamento da propina. O dinheiro alimentaria o caixa dois do PTB, partido de Eliseu, e seria entregue mensalmente ao assessor da SMS, Marco Antônio Bernardes, um dos acusados pelo MP da morte de Eliseu, ao lado do presidente municipal do PTB, José Carlos Brack, e dos diretor da Reação, Renato Hordoff de Mello e Marcelo Machado Pio. Após um ano do evento, a promotora relata que entre as mais de 100 testemunhas ouvidas pela Justiça na instrução do processo - já são 35 volumes e 85 apensos, mantidos sob sigilo de justiça - outras evidências foram somadas ao caso.

- Um funcionário da secretaria reconheceu o autor dos disparos como sendo um dos homens que, ao lado dos donos da empresa Reação o ameaçaram de morte caso denunciasse o esquema - diz Callegari.

A expectativa é que a juíza Rosane Michels leve o tema a júri popular. Em março serão ouvidas as testemunhas restantes. E no dia 25, os 11 réus no processo prestarão depoimentos:

- Acredito que em abril tenhamos essa decisão sobre o júri popular. E antes do final do ano um veredicto sobre o caso - diz a promotora.

Especial para O GLOBO