Título: Com Dilma, Kassab confirma assédio governista
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 26/02/2011, O País, p. 9

SÃO PAULO. Decidido a deixar o DEM e paparicado pelo governo da presidente Dilma Rousseff, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, já articula a criação de novo partido para agrupar possíveis dissidentes da oposição. Num encontro em São Paulo marcado pela troca de gentilezas, Kassab e Dilma reforçaram ontem aproximação que pode resultar no fortalecimento maior da base do governo no Congresso. Sob o pretexto de discutir projetos para a Copa do Mundo, o prefeito marcou presença na foto com a presidente e até desconversou sobre um eventual constrangimento com o principal aliado, José Serra, caso rompa a tradicional aliança com o PSDB.

Na saída da reunião de quase duas horas, em meio a elogios a postura de Dilma, o prefeito disse que vem recebendo convites não apenas do PSB e do PMDB, mas de outros partidos que pretendem lhe dar abrigo. Antes, Kassab busca adesão ao seu projeto de criação do Partido da Democracia Brasileira (PDB). A legenda, que depois se fundiria com o partido escolhido por ele em futuro breve, foi a forma encontrada por ele para evitar desrespeito à regra que impõe fidelidade partidária. Se simplesmente deixasse o DEM e se filiasse a outro partido, ele perderia o mandato. Por isso, pensa em criar o PDB como ponte para o novo partido.

Dentro do DEM, a saída é dada quase como certa. O próprio prefeito deixa claro que o caminho está sendo pavimentado.

- Existe um convite feito de forma muito respeitosa pelo governador Eduardo Campos (presidente do PSB) e pelo vice-presidente Michel Temer (do PMDB) para que, no caso de identificarmos a hipótese de saída do DEM, eu possa examinar junto com eventuais parlamentares a filiação seja no PSB ou no PMDB. E há (convites de) outros partidos também - disse Kassab, lembrando que seria "politicamente incorreto" comentar a possível debandada do DEM também por parte do vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (DEM), que vem dando sinais de que pretende seguir Kassab na empreitada.

Considerado uma figura que cresceu politicamente por conta do apoio de Serra, o prefeito não deu ontem vazão à defesa inequívoca que costuma fazer do ex-governador. Indagado se pode deixar o DEM para integrar um partido da base de Dilma e se isso não criaria uma saia-justa com Serra, seu padrinho político, o prefeito foi evasivo:

- No momento estou preocupado com a convenção do DEM, no próximo dia 15.

Horas antes, em entrevista à rádio Jovem Pan, Serra fez um apelo para que o prefeito fique onde está:

- Torço para que o Kassab tome uma decisão boa para ele e para a cidade. Ao mesmo tempo, que ele não coloque em risco a aliança que ele tem conosco, com o PSDB, e que tem sido boa para São Paulo.

O movimento de Kassab para se desvincular do DEM tem impulsionado outros integrantes a pensar em deixar o partido. A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) tem mostrado insatisfação com o partido e deixa claro que também pode sair.

Para o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), a criação do PDB é uma "natural aflição" da atual polarização do PT e do PSDB em São Paulo:

- Na verdade, querer migrar para outro partido como ponte para outro existente é uma natural aflição em função da situação binária de São Paulo, entre PT e PSDB. Como o PSDB terá candidatos em 2012 e 2014, ele (Kassab) busca o outro vetor onde imagina poderá ter/ser candidato em 2012 e 2014 e ser competitivo. Não será simples o PT, que o agrediu tanto na campanha de prefeito do Serra, em 2004, explicar a seus militantes.

Segundo Maia, deputados vão aproveitar a "janela indiscreta" para se aproximar do governo Dilma Rousseff:

- É uma forma de usar a legislação existente para mudar de partido. Dizem que deputados de outros partidos aproveitarão essa "janela indiscreta" para ir para o PSB, pela proximidade com o governo.

E completou:

- Isso faz parte da política desde o início da República. O partido mais forte e hegemônico é o PG, Partido do Governo. A democracia brasileira ainda é imatura, não entende o papel da oposição.

COLABOROU: Cássio Bruno