Título: Na era Lula bancos tiveram lucro recorde de R$199 bi, com credito farto
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 26/02/2011, Economia, p. 31

SÃO PAULO. A era Lula chega ao fim com um recorde na área financeira. O lucro líquido de uma amostra de nove bancos (entre eles, Banco do Brasil, Itaú e Bradesco) somou R$174,075 bilhões entre 2003 e 2010, em valores nominais. Corrigida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), essa cifra pula para R$199,455 bilhões, batendo de longe os resultados registrados durante a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso. As mesmas nove instituições, entre 1995 e 2002, acumularam um ganho nominal de R$19,113 bilhões e R$30,798 bilhões a valores atuais. A diferença entre os lucros corrigidos pela inflação nos dois períodos é de 550%.

Os números foram compilados pela consultoria Economática, que usou na sua amostra as instituições que já divulgaram os resultados fechados de 2010. A consultoria também mediu a rentabilidade dos bancos. Durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique, o retorno sobre o patrimônio líquido oscilou entre a mínima de 8,41% (em 2000) e a máxima de 13,98% (1996). Com Luiz Inácio Lula da Silva à frente do Planalto, a rentabilidade mediana nunca foi inferior a 13,08% (2008) e o teto para a amostra estudada chegou a 17,66% (em 2006).

Longe de representar a preferência de um ou outro pelos banqueiros, os números da Economática refletem a forte transformação da economia brasileira. O governo FH começou sob a égide de uma nova moeda, que obrigou os bancos a buscarem novas formas de receita para substituir os antigos ganhos com a inflação (o chamado floating). Passou ainda por uma maxidesvalorização e balançou com o peso de três crises financeiras (do México, da Rússia e da Ásia), que fecharam o crédito externo ao país.

Ganhos com juros, inflação baixa e economia em alta

O resultado disso foi a quebra de várias instituições e a realização de várias fusões e aquisições no sistema financeiro. O período foi caracterizado ainda pelo reconhecimento de prejuízos dos bancos públicos. Entre 1995 e 1996, só o BB reportou prejuízo nominal superior a R$11,7 bilhões.

Já o Brasil de Lula voltou a crescer na esteira da melhora da economia mundial, a partir de 2004. O país gerou empregos em todos os setores e maior renda, e os bancos tiraram proveito do aumento crescente da demanda por crédito. Em relação a esse ponto, os economistas lembram que, mesmo num cenário de estabilidade econômica, os juros reais no país continuaram entre os mais altos do mundo. No governo Lula, o ponto mais baixo foi registrado entre 2009 e 2010 (4,6%), considerando a Selic acumulada nos últimos 12 meses, ajustada pelo IPCA.

¿ A era FH foi das grandes reformas bancárias, das fusões e também da construção de um sistema de controle (dos bancos) mais confiável. Lula não fez inovações, mas aprimorou em termos de fiscalização e normatização o que já havia sido implantado. O que ele teve, que faltou no governo anterior, foi a volta do crescimento econômico ¿ afirma o economista Ernesto Lozardo, da FGV.

Safra de bons resultados deve se repetir este ano

A evolução dos resultados chegou a seu ápice em 2010, quando o Itaú Unibanco encerrou o ano com lucro líquido de R$13,3 bilhões, um aumento de 32,3% sobre o resultado do ano anterior. O resultado estabeleceu um novo recorde no setor bancário brasileiro.

A safra de bons resultados deve se repetir neste início do governo da presidente Dilma Rousseff. Os bancos que já divulgaram seus balanços projetam um novo aumento entre 15% e 20% da carteira de crédito em 2011 ¿ motor da expansão dos lucros. Soma-se a isso a perspectiva de elevação também dos spreads (a diferença entre o custo de captação dos bancos e o juro cobrado dos clientes). Essa projeção leva em conta as medidas de aperto monetário adotadas pelo governo, que encareceram o funding dos bancos e reduziram a oferta de dinheiro no mercado. No Bradesco, por exemplo, a estimativa é de um aumento da margem financeira de juro entre 18% e 22%, em comparação a um crescimento da carteira de empréstimos de 15% a 19%.