Título: Dúvidas não devem evitar alta dos juros
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Fonte: O Globo, 27/02/2011, Opinião, p. 6

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne esta semana com a difícil tarefa de avaliar os vários prós e contras a uma nova elevação das taxas básicas de juros.

Os próprios indicadores do Banco Central já registraram alguma moderação no crédito em janeiro. O levantamento do IBGE sobre o emprego também detectou arrefecimento no mercado de trabalho nas seis maiores regiões metropolitanas, embora os números continuem bem positivos. A aprovação do salário mínimo pelo Congresso Nacional, sem embutir os aumentos reais que vinham sendo dados, pode contribuir para que o consumo de itens básicos seja menos pressionado este ano.

Por outro lado, os índices de inflação não estão dando trégua. Em fevereiro, o IPCA-15 (índice do IBGE que registra a variação dos preços do meio de um mês para o outro) bateu na casa de 1%, e, anualizado, chegou a 6%, a meio ponto do limite superior da meta. Diante dos últimos resultados, as expectativas em relação à trajetória da inflação se deterioraram ainda mais. As taxas de juros negociadas nos mercados futuros vêm refletindo essa deterioração, com os negócios fechados apontando para a tendência de a inflação se afastar do centro da meta (4,5%) em 2011, e não cair tanto em 2012.

Como o BC deverá agir diante desse quadro, agravado por uma situação internacional em alerta pela crise que está sacudindo países produtores de petróleo no Norte da África e no Oriente Médio? O mais provável é que haja mesmo uma nova elevação das taxas básicas de juros - atualmente em 11,25% ao ano. As opiniões entre os especialistas divergem quanto à dosagem necessária dessa alta, mas são poucos aqueles que pregam o fim do ciclo de aperto monetário.

A aprovação do salário mínimo no valor proposto pelo governo foi um passo importante para controle dos gastos públicos. Mesmo assim, não está claro para os agentes econômicos qual será a contribuição efetiva da política fiscal no combate à inflação. O governo já anunciou um corte de R$50 bilhões nos gastos federais previstos no Orçamento da União, mas não disse exatamente como fará isso. O detalhamento do corte está previsto para ser divulgado até quarta-feira, data em que o Copom tomará sua decisão (e obviamente o Comitê não terá tempo para avaliar o impacto dessa iniciativa sobre a demanda na economia brasileira).

A decisão do Copom costuma repercutir de imediato nas expectativas dos mercados financeiros, que assim antecipam o efeito da política monetária sobre o conjunto da economia. No momento, influenciar as expectativas no sentido de inversão da trajetória dos índices de inflação seria relevante. Dificilmente a economia brasileira deixará de crescer de forma razoável em 2011, pois o peso dos investimentos no Produto Interno Bruto (PIB) vem aumentando, e há vários projetos em andamento que ultrapassaram o ponto de não retorno. A construção civil, por exemplo, tem obras contratadas para entrega em prazos definidos.

A moderação do ritmo de crescimento do consumo seria desejável para contrabalançar pressões inflacionárias inevitáveis vindas de outros segmentos. A pergunta é se a moderação já ocorrida seria suficiente para se atingir tal objetivo.