Título: Governo tem fidelidade recorde no Congresso
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 28/02/2011, O País, p. 4

Na estreia de Dilma, adesão de deputados e senadores da base aliada supera média alcançada por Lula

BRASÍLIA. Ao jogar duro com a base aliada numa estratégia de segurar nomeações para cargos de segundo escalão, o governo Dilma Rousseff conseguiu no primeiro mês de funcionamento do novo Congresso uma adesão bem maior do que a média dos oito anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, dentro do Palácio do Planalto, a avaliação pragmática é que está na hora de iniciar a liberação dos cargos para evitar surpresas desagradáveis nos próximos meses. Até porque deve aumentar muito o nível de insatisfação com o anúncio, hoje, do detalhamento do corte orçamentário de R$50 bilhões.

Levantamento feito pela consultoria Arko Advice com base nas oito votações nominais e abertas que aconteceram na Câmara e nas três do Senado mostra que Dilma obteve apoio expressivo nas duas Casas em fevereiro e não apenas na votação do projeto de lei que estabelece o salário mínimo em R$545. No caso da Câmara, também foram analisadas votações de medidas provisórias.

Os dados agradam ao Palácio do Planalto. Apesar de a adesão registrada ser menor do que o número total de parlamentares governistas, dissidências já eram esperadas pelos articuladores políticos do governo. Na Câmara, os aliados somam 373 votos, o equivalente a 72,70% do total. No Senado, são 61 aliados, o que corresponde a 75,30%. Mas, entre os deputados, a média de apoio em fevereiro foi de 63,84%. Uma diferença de 8,86%. No Senado, a média foi de 50,46%, diferença ainda maior: 24,84%, segundo dados da Arko Advice.

- De qualquer forma, esse resultado ficou acima da média verificada na gestão Lula (2003-2010). O apoio médio do ex-presidente na Câmara foi de 51,37% e, no Senado, de 48,66% - observou o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice.

O relatório da Arko registra que o PMDB mostrou apoio forte, ao chegar ao final do mês com adesão média de 78,89% ao governo. Influenciou nesse índice o apoio de todos os 77 deputados da bancada na votação do salário mínimo. O grau de adesão do PT foi de 82,18%. Porém, na média, a legenda com maior grau de fidelidade foi o PRB. O partido tem 12 deputados e atingiu um índice nas votações de 91,48% de apoio ao Planalto.

No Senado, dos dez partidos que compõem a base, cinco apresentaram grau de apoio ao Palácio do Planalto de 100%. A média de apoio do PMDB no Senado foi de 69,64%, inferior ao verificado na Câmara (78,89%), registra o levantamento da Arko. Já o PDT foi a legenda com maior dissidência nas votações. O apoio médio ficou em 58,33%, o que deve colocar o partido no fim da fila para a divisão dos cargos de segundo e terceiro escalão.

- O PMDB fez a parte dele. Agora, é aguardar o segundo escalão. Mas não há estresse. Nós confiamos no critério do governo. E, a partir de agora, o número 77 será uma marca da bancada peemedebista - disse o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), numa referência à unidade de todos os 77 deputados da bancada na votação do mínimo.

No núcleo do governo, a maior preocupação é que a base aliada tente mostrar força numa votação mais delicada, como a da PEC 300, a Proposta de Emenda Constitucional que estabelece a criação de piso salarial para policiais e bombeiros militares. Já aprovada em primeiro turno na Câmara, o governo calcula que a PEC pode gerar um impacto orçamentário de até R$43 bilhões nas contas de estados e da União. Por isso, a ordem é trabalhar em parceria com os governadores para barrar a votação.

O governo não está preocupado com a possibilidade de dissidência na votação da medida provisória que estabelece a correção da tabela de imposto de renda em 4,5%. A avaliação é que essa matéria não tem apelo tão forte para a base aliada dar um troco na demora do loteamento político. Mas existe o reconhecimento de que é preciso começar a agradar aos partidos aliados.

Apesar de reconhecer a demanda, o governo sinalizou que não será possível fazer todas as nomeações de segundo escalão de uma única vez, até mesmo por causa da disputa interna dos partidos e entre as legendas aliadas. O Planalto quer primeiro um entendimento entre os partidos, para facilitar a divisão dos cargos.

Além disso, há vetos que precisam ser resolvidos. O PT baiano do governador Jaques Wagner quer vetar a indicação do ex-ministro Geddel Vieira Lima para uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal. Por sua vez, a governadora Roseana Sarney (PMDB-MA) vetou a indicação do ex-deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) para um cargo no Ministério da Justiça. O mesmo ocorre com o senador Roberto Requião (PMDB-PR), que demonstrou contrariedade com a possibilidade de o ex-governador Orlando Pessuti (PMDB-PR) assumir um cargo de diretoria numa estatal.