Título: Arábia Saudita eleva produção de petróleo
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Fonte: O Globo, 28/02/2011, Economia, p. 21

Para compensar perdas da Líbia, país produzirá 9 milhões de barris diários. UE analisa hoje impactos

LONDRES, TEERÃ e MADRI. A Arábia Saudita anunciou ontem o aumento de sua produção diária de petróleo em 500 mil a 600 mil barris, para um total de nove milhões de barris por dia. O objetivo da medida é compensar as perdas provocadas pela revolta contra o governo da Líbia.

- Alcançamos nove milhões de barris por dia - disse uma autoridade saudita, segundo a agência Dow Jones. A produção saudita é capaz de chegar a 12 milhões de barris diários.

Em linha com a decisão saudita, o ministro do Petróleo do Catar, Mohammed Saleh Al Sada, disse ontem que os países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e os demais produtores da commodity poderão compensar uma possível suspensão das exportações da Líbia:

- Pensamos que não há escassez de oferta. A Opep e outros produtores fora do grupo podem compensar uma quebra na produção da Líbia, depois de os preços do petróleo terem subido para níveis máximos em dois anos na semana passada.

Mas a decisão da saudita vai na contramão de um pedido iraniano, já que o ministro do Petróleo do Irã havia recomendado ontem que a Arábia Saudita não tomasse a decisão precipitada de aumentar sua produção, pois a Opep ainda não chegou a um acordo sobre isso e não poderá agir devido à falta de clareza sobre a situação da Líbia.

- A Opep não decidiu organizar um encontro de emergência para discutir o aumento da produção - disse Massoud Mirkazemi à agência estatal Irna. - A Arábia Saudita deveria evitar tomar qualquer decisão precipitada sobre aumentar a produção e qualquer atitude a respeito de forma independente.

Já os ministros de Energia da União Europeia analisam hoje o impacto das turbulências no Norte da África e no Oriente Médio sobre o preço do barril e o fornecimento de gás ao bloco.

- O aumento do preço do petróleo, que deve se manter por vários meses, terá um impacto muito negativo nos países da UE - disseram fontes do bloco à agência de notícias EFE. - A situação, neste momento, não é especialmente preocupante, mas deve ser feita uma análise de médio e longo prazo.

Petrolíferas acompanham situação com cuidado

O barril do Brent, que serve de referência para a Europa, fechou a US$112,14 na sexta-feira em Londres. E analistas temem que a escalada se mantenha. Na semana passada, o banco japonês Nomura Holdings afirmou que o barril pode chegar a US$220, se a produção parar na Argélia.

A UE importa 60% do petróleo que consome e 40% são de países da Opep. Já as refinarias da Europa compram cerca de 80% das exportações de petróleo da Líbia, de 1,3 milhão de barris por dia, segundo analistas. O país produz 2% do total mundial.

Especialistas temem que a Opep não consiga fornecer suprimentos extras ou que grandes produtores como a Arábia Saudita também sejam alvo de mobilizações contra o governo.

- Se a Líbia fosse a Arábia Saudita, não haveria um produtor alternativo - disse ao jornal britânico "The Independent" Chris Skrebowski, da Peak Oil Consulting. - Seria como em 1974 de novo.

As grandes petrolíferas acompanham a situação política na Líbia com cuidado, pois querem manter a produção com ou sem Muamar Kadafi no poder. No pior cenário estimado para a Líbia, Mohammed El-Katiri, da consultoria Eurasia Group, prevê que a turbulência dure seis meses.