Título: Diplomacia global tenta deter Kadafi
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 28/02/2011, O Mundo, p. 25

Hillary viaja à Europa para consultar aliados sobre resposta conjunta à crise

FOTO ENVIADA a agência de notícias mostra corpos em Benghazi

GENEBRA. Num esforço para coordenar a resposta internacional à repressão desencadeada pela ditadura de Muamar Kadafi, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, partiu ontem para Genebra, onde vai se encontrar com aliados europeus, árabes e asiáticos. Seu inédito discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU, hoje, virá na esteira da decisão unânime do Conselho de Segurança de enviar o caso do regime líbio para investigação do Tribunal Penal Internacional. Também foram aplicadas sanções contra Kadafi e sua família, que terão seus bens no exterior congelados e não poderão deixar o país.

Os 192 países-membros da Assembleia Geral da ONU vão se reunir amanhã em Nova York para votar a suspensão da Líbia do Conselho de Direitos Humanos, uma recomendação inédita do órgão.

Antes de viajar para a Europa, Hillary demonstrou como a Casa Branca tenta aproximar-se dos grupos de oposição a Kadafi.

¿ Estaremos prontos para oferecer qualquer tipo de assistência que qualquer um desejar dos EUA ¿ assegurou. ¿ Primeiro deve acabar o regime (de Kadafi), e sem mais derramamento de sangue. Queremos que ele parta e leve seus mercenários.

Enquanto a pressão internacional cresce sobre Kadafi, o líder líbio menospreza as sanções aplicadas pela ONU ao seu regime. Em entrevista por telefone a uma emissora de TV sérvia, o ditador classificou a votação do Conselho de Segurança da ONU como ¿nula¿ e ¿sem efeito¿.

¿ O povo da Líbia me apoia. Pequenos grupos de rebeldes estão cercados e nós cuidaremos deles ¿ avaliou.

Alguns países ¿ como EUA, Reino Unido, Canadá, França e Austrália ¿ suspenderam temporariamente o funcionamento de suas embaixadas em Trípoli e chamaram de volta seus funcionários. Ontem, o Reino Unido congelou os ativos da família Kadafi. Esta decisão, segundo o Ministério das Relações Exteriores, afeta cinco filhos do ditador. Além disso, a imunidade diplomática de Kadafi e dois de seus filhos em território britânico foi suspensa por Londres.

¿ É claro que é hora de o coronel Kadafi partir ¿ decretou o chanceler William Hague.

Mesmo a Itália, país do qual a Líbia foi colônia, distanciou-se de Kadafi. Ontem, os italianos suspenderam um tratado de amizade firmado em 2008 com o líder africano. No texto invalidado há inclusive uma cláusula de não-agressão. Assim, Roma fica à vontade para participar de operações de paz ou permitir o uso de bases militares.

¿ Alcançamos um ponto sem retorno ¿ afirmou o chanceler italiano, Franco Frattini, em entrevista a uma rede de TV de seu país.

Sobre a saída de Kadafi, ele foi taxativo:

¿ Isso é inevitável.

Outro ataque veio da Alemanha, onde o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, em artigo publicado ontem no jornal ¿Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung¿, avaliou que Kadafi não pode continuar à frente de seu país depois de ter respondido à revolta popular: ¿Uma família governante que conduz uma guerra tão brutal contra seu próprio povo está acabada. O ditador não pode ficar¿.