Título: Protestos levam premier tunisiano à renúncia
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 28/02/2011, O Mundo, p. 25

Ex-aliado do ditador derrubado sai e diz haver sinais de um complô para fazer fracassar revolução

MOHAMED GHANNOUCHI: renúncia era reivindicada pelos rebeldes

TÚNIS. O primeiro-ministro tunisiano, Mohamed Ghannouchi, renunciou ontem, atendendo a uma das principais reivindicações dos rebeldes em seu país. A renúncia veio após pelo menos cinco pessoas morrerem durante a nova onda de protestos, desde a última sexta-feira, no país.

Aos 69 anos, Ghannouchi era fonte de irritação para os tunisianos por trás da chamada Revolução de Jasmim, que derrubou o presidente Zine El Abidine Ben Ali no mês passado, desencadeando uma onda de revoltas populares no mundo árabe. Apesar de Ben Ali ter se refugiado na Arábia Saudita em 14 de janeiro, Ghannouchi ¿ que ocupou o posto de premier de Ben Ali durante 11 anos ¿ prometeu guiar o país até as eleições, marcadas para meados de julho.

¿ Esta renúncia não representa uma fuga de minhas responsabilidades. Quero abrir caminho para um novo primeiro-ministro que, espero, devolverá a esperança aos tunisianos ¿ disse Ghannouchi.

O comunicado foi feito no rastro da retomada, em todo o país, de protestos de rua semelhantes aos que derrubaram Ben Ali.

¿ Não estou preparado para ser o homem da repressão ¿ disse Ghannouchi, alegando que há forças tentando minar o movimento pela democracia na Tunísia sem, no entanto, especificar que forças seriam essas. ¿ Há sinais de um complô para que a revolução falhe. É preciso que todos os tunisianos se unam para mostrar ao mundo que a Tunísia é um país civilizado.

Após a renúncia de Ghannouchi, o presidente interino Fouad Mebazza nomeou Caid Sebsi seu novo primeiro-ministro. Sebsi foi ministro das Relações Exteriores no governo de Habib Bourguiba, o presidente que liderou o processo de independência e governou o país a partir de 1957, até ser derrubado por Ben Ali em 1987.

Personalidades sauditas pedem reformas ao rei

Na Arábia Saudita, um grupo de 119 proeminentes acadêmicos, ativistas a empresários divulgou, ontem, um manifesto em vários websites do país exortando o rei Abdullah a promover reformas no país. Entre as reivindicações está a adoção de uma monarquia constitucional: ¿A atual situação¿, diz o documento, ¿é repleta de razões de preocupação. (...) Estamos vendo a prevalência da corrupção e do nepotismo, a exacerbação do facciosismo e a ampliação do fosso entre Estado e sociedade¿.

Já no vizinho Iêmen, onde os protestos têm sido diários, os partidos de oposição anunciaram ontem que vão se juntar aos jovens rebeldes na tentativa de derrubar o presidente do país, no poder há 32 anos. Até então, os principais partidos de oposição vinham se mostrando relutantes em juntar-se aos protestos. A notícia é a segunda maior derrota de Ali Abdullah Saleh nos últimos dias, já que, no sábado, dois poderosos chefes de sua própria tribo o abandonaram , enquanto os protestos antigovernistas atingiam seu ponto máximo.

E no pequeno Bahrein, milhares de manifestantes continuaram protestos ontem pedindo reformas e até a saída da monarquia sunita.