Título: Discurso em tom de desabafo
Autor: Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 18/07/2009, Política, p. 4

Congresso

Para um plenário vazio, presidente do Senado, José Sarney, faz balanço do semestre e diz ser vítima de injustiças. Tucano classifica pronunciamento de ¿patético¿

J. Freitas/Agência Senado O senador José Sarney em plenário: balanço de sua gestão e lamentações para um público minguado

Em discurso para um plenário vazio, com a presença de apenas seis senadores, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), fez seu último pronunciamento antes do recesso parlamentar. Em tom de desabafo, o peemedebista reclamou da perseguição que estaria sofrendo e aproveitou a ocasião para lembrar medidas que marcaram sua gestão. Sarney se disse injustiçado, afirmou ter feito economia nos cofres do Senado e deixou claro que o afastamento ou a renúncia da presidência não são opções. ¿As ameaças não me amedrontam¿, sustentou.

As ações que ele listou como parte de um projeto de reforma administrativa da Casa, na realidade, foram tomadas com o intuito de domar o furacão de escândalos que assola a instituição desde fevereiro e que tem o senador como epicentro. Por conta disso, seu pronunciamento, intitulado ¿prestação de contas¿, não sensibilizou adversários políticos. Líderes dos dois partidos citados explicitamente por Sarney ¿ PSDB e DEM ¿ reagiram com críticas aos lamentos e à tentativa de reafirmar sua posição como presidente da Casa. ¿É patético¿, declarou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), ao ser informado sobre o teor do discurso de Sarney.

As tentativas do presidente em elencar como prioridade a apreciação de matérias importantes, como as reformas política e trabalhista, também não surtiram o efeito desejado. Ao invés de mudar o foco, inflaram o teor das críticas da oposição. ¿Quero é saber das contas do exterior. Ele agora quer falar de reforma? O que ele tiver a falar será dito ao Conselho de Ética do Senado¿, disparou o tucano Arthur Virgílio.

Apenas seis senadores (1)estavam no plenário quando Sarney subiu à tribuna. O líder do Democratas, José Agripino (RN), cumpria agenda no estado e não ouviu Sarney reclamar por ter perdido seu partido entre o grupo de aliados. ¿Lamento ter perdido o apoio do DEM, um dos partidos que apoiou a minha candidatura¿, ressaltou Sarney. ¿Nós votamos nele e lamentamos que a situação tenha chegado a esse ponto. Mas tínhamos que optar entre compartilhar uma vitória e trabalhar por uma investigação isenta. Ficamos com a segunda opção e não nos arrependemos¿, rebateu Agripino.

Alianças

A reposta do líder democrata é o retrato das desgastadas alianças políticas que sustentam Sarney no posto que ele não cogita deixar. O presidente do Senado preferiu atribuir a crise na Casa à perseguição da imprensa e disputas políticas. Não fez referências às denúncias que pesam sobre ele. ¿Essa é a terceira vez que exerço a presidência do Senado Federal. Nas três vezes, encontrei o Senado em meio a crises. Reergui-o. (¿) Não tenham dúvida de que é este também o meu objetivo¿, assegurou ao minguado grupo de ouvintes.

Agora, Sarney deve viajar para o Maranhão durante o recesso parlamentar, que começa hoje. Segundo seus assessores, o senador deve passar 10 dias em férias antes de voltar para Brasília.

1 - PLATEIA Apenas seis senadores acompanharam o discurso do presidente da Casa, José Sarney, no plenário: Geraldo Mesquita (PMDB-AC), Álvaro Dias (PSDB-PR), Mão Santa (PMDB-PI), Roberto Cavalcanti (PRB-PB), Cristovam Buarque (PDT-DF) e João Pedro (PT-AM)

O que ele (Sarney) tiver a falar será dito ao Conselho de Ética do Senado