Título: PT não abre mão de estatal
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 18/07/2009, Política, p. 5

Partido trabalha a fim de manter o controle da BR Distribuidora. Para o posto, defende Nestor Cerveró ou Andurte Filho, ambos diretores da empresa. Ex-senador, José Eduardo Dutra quer trocar a presidência da subsidiária da Petrobras pela do PT

Ressabiado com as concessões feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PMDB, os petistas já trabalham nos bastidores para manter o controle da presidência da BR Distribuidora. Em data ainda não definida, o posto ficará vago com a saída de José Eduardo Dutra, ex-senador por Sergipe, que concorrerá ao comando do PT. Para o lugar de Dutra, líderes da legenda apostam em dois nomes que já trabalham na empresa. Um deles é o diretor financeiro Nestor Cerveró, que é ligado, entre outros, ao senador Delcídio Amaral (PT-MS). O outro é o diretor de Mercado Consumidor Andurte de Barros Duarte Filho, que tem bom trânsito entre os políticos e contaria com a simpatia da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

No segundo mandato de Lula, o PT sempre esteve à frente da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras detentora da maior rede de postos de combustíveis do país e de um orçamento para investimento de R$ 4,3 bilhões entre 2009 e 2013. Antes de Dutra, a presidência da empresa estava nas mãos de Maria das Graças Foster, quadro de confiança de Dilma hoje à frente da diretoria de Gás da Petrobras. ¿O cargo sempre foi nosso. Esse o PMDB não vai levar¿, diz um cacique petista. Nos últimos dois anos, PT e PMDB travaram uma disputa renhida por postos de comando no setor energético. Nestor Cerveró, por exemplo, foi empossado na BR Distribuidora depois de ser demitido da Diretoria Internacional da Petrobras.

Apesar da resistência do PT, a demissão foi feita por Lula para acomodar Jorge Zelada nessa diretoria. Zelada foi uma indicação da bancada do PMDB da Câmara, que só aderiu ao governo em 2007. Os peemedebistas desbancaram petistas em outras funções de primeiro escalão. Até a ministra da Casa Civil, escolhida por Lula para representá-lo na sucessão presidencial em 2010, perdeu quedas de braço. Dilma não conseguiu, por exemplo, efetivar Valter Cardeal na presidência da Eletrobrás. Cardeal continua na estatal, mas na diretoria de Engenharia, subordinado às ordens do presidente José Antônio Muniz Lopes, afilhado político de José Sarney (PMDB-AP).

Técnicos

Os dois nomes do PT para a presidência da BR Distribuidora são funcionários de carreira da Petrobras, outro rincão petista na máquina pública. Engenheiro químico, Cerveró está desde 1975 nos quadros da maior estatal brasileira, aonde chegou pela porta do setor de refino. Antes de chefiar a Diretoria Internacional, ele foi assessor da presidência para Desenvolvimento de Novos Negócios e gerente de Termelétricas na Superintendência de Participações. Já Andurte entrou na Petrobras em 1982. Engenheiro mecânico, foi gerente executivo de Grandes Consumidores da BR Distribuidora. Ambos, portanto, têm o perfil que o ministro de Minas e Energia, o peemedebista Edison Lobão, afirma procurar para o setor elétrico.

¿Minhas indicações sempre priorizaram a capacidade técnica. Sou um caçador de talentos¿, declarou Lobão em conversa recente com o Correio.

O número R$ 4,3 bilhões é orçamento para investimento da BR Distribuidora entre 2009 e 2013