Título: Brasil passa Itália e é a 7ª economia do mundo
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 04/03/2011, Economia, p. 23

SÃO PAULO. Com 7,5% de crescimento em 2010, o Brasil subiu uma posição entre as maiores economias do mundo. Saltou da oitava colocação em 2009 para a sétima, deixando a Itália para trás por uma diferença de US$52 milhões. Na média dos oito anos de governo Lula, o avanço foi mais modesto. Segundo levantamento do Bradesco, com uma amostra de 36 países, o Brasil ficou em 16º lugar, com crescimento médio de 4% entre 2003 e 2010. A primeira colocada foi a China, com 10,9%, seguida da Índia, com 8%. A Rússia também ficou acima do Brasil, com 4,8%. Os quatro formam o Bric.

- O governo não fez as reformas necessárias para crescer. Priorizou aumentos de estatais, crescimento de cargos e salários em vez de reformas que ajudassem o setor privado. Um pouco dessas reformas aconteceu no início do mandato de Lula, mas depois se perdeu, principalmente após o mensalão. Forçar o crescimento sem ter condições para isso apenas vai levar a mais inflação - disse Sérgio Vale, analista da MB Associados.

Em 2010, os EUA continuaram na liderança (US$14,624 trilhões), segundo dados preliminares do Fundo Monetário Internacional. Em seguida, vieram China (US$5,745 trilhões), Japão (US$5,390 trilhões), Alemanha (US$3,305 trilhões), França (US$2,555 trilhões), Reino Unido (US$2,258 trilhões), Brasil (US$2,088 trilhões), Itália (US$2,036 trilhões), Canadá (US$1,604 trilhão) e Índia (US$1,629 trilhão).

O economista Rafael Martelo, analista da consultoria Tendências, disse que o crescimento robusto da economia pode levar o país a conquistar mais uma posição este ano ou em 2012. Mas não de maneira sólida:

- Essa vantagem pode não durar muito, já que o Reino Unido, sexto no ranking, prepara um ajuste fiscal que deve começar a surtir efeito em 2013 ou 2014. A diferença de PIB entre Brasil e Itália também não é grande.

"Não é hora para comemorações", diz analista

Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem em Brasília que dados preliminares indicam que o Brasil teria ultrapassado França e Reino Unido com o crescimento de 2010. Ele levou em conta o PIB a preços de Paridade de Poder de Compra (PPP), que considera variáveis como câmbio e inflação.

- Há tendência de uma nova dinâmica global, com os países desenvolvidos crescendo menos que os outros. As mudanças devem ocorrer nos próximos cinco anos. Países asiáticos, como Índia e Coreia do Sul, que hoje têm um PIB mais modesto, podem substituir economias mais desenvolvidas - afirmou Martelo.

Segundo o economista, os países europeus devem perder posição ao longo dos anos por recessão ou baixo crescimento. Os integrantes do Bric devem ganhar cada vez mais espaço, com China e Brasil crescendo acima do ritmo mundial. Na avaliação de Martelo, a Rússia, que tem um crescimento atrelado ao petróleo, vai conseguir avançar.

Vale disse que é muito positivo o Brasil chegar ao 7º lugar, mas não é hora para comemorações. Segundo ele, o país já passou por isso no passado e não conseguiu se sustentar. E, se houver negligência com a inflação, o país crescerá pouco até 2013:

- Os riscos inflacionários não são pequenos. Os cortes anunciados não devem desacelerar a economia como seria necessário, e o BC não parece disposto a ser mais agressivo com a Selic. Dilma corre o risco de entregar um país mais frágil em 2014.

Ernesto Lozardo, professor de economia da FGV, disse que o crescimento de 4,5% a 5% para os próximos anos, como afirmam representantes do governo, só será possível se os investimentos aumentarem em produção e infraestrutura, o que depende também da iniciativa privada.