Título: Ana de Hollanda: Não me sinto acuada
Autor: Conde, Miguel ; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 05/03/2011, O País, p. 4

No Rio, Casa de Rui Barbosa sofre com falta de pessoal e cobra concursos

RECIFE e RIO. "Não me sinto acuada. Tenho diálogo permanente com o Planalto." Foi essa a primeira reação pública da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, à crise em sua pasta. Ana participou ontem à noite da abertura do carnaval de Olinda. Ela esteve no palanque da prefeitura, onde assistiu ao início da festa, com a chegada de 400 batuqueiros de maracatus de matriz africana, regidos pelo percussionista Naná Vasconcelos.

Ana foi chamada de "meio autista" pelo sociólogo Emir Sader, indicado para a Casa de Rui Barbosa. O Planalto interferiu e tirou Sader, mas Ana também saiu chamuscada. Hoje cedo ela viaja para a Bahia e depois segue para o Rio, onde pretende ver o desfile das escolas de samba.

Ana não entrou em detalhes sobre o afastamento de Sader ou as reações que o episódio provocou no PT. Disse não se sentir em posição de fragilidade nem sob pressão:

- Não me sinto acuada. Todos os dias tenho falado com o Palácio do Planalto, com quem tenho diálogo permanente. E sou muito tranquila com essa relação. Existe talvez uma difusão muito grande de informações. Agora, a relação está tranquila. Eles estão sabendo de tudo que está acontecendo.

Sobre os cortes orçamentários, afirmou:

- Sabemos que teremos dificuldades, que este será um ano difícil para todo o governo, não só para a Cultura. Será um ano de contenções, temos que nos adaptar ao orçamento em todas as áreas. Mesmo assim o Brasil está bem, porque na Europa estão até diminuindo salários. Lá está muito pior. Então temos que entender que a situação econômica é difícil - disse.

Depois da exposição nos últimos dias, na Casa de Rui Barbosa, a impressão dos funcionários é que as necessidades da instituição ficaram em segundo plano. Sem concurso desde 2002, sendo que o anterior havia sido realizado em 1982, a casa viu seu quadro de servidores encolher de 109 para 99 no último ano, com vários chegando à idade da aposentadoria.

- Tenho dois bibliotecários para cuidar de uma biblioteca de mais de 150 mil títulos - diz Ana Pessoa, diretora do Centro de Memória e Informação da fundação. - Você começa a ter que refrear o atendimento a pesquisadores, buscar soluções de terceirização, vai ficando insustentável. Tem que haver um limite para nossa espera.

Preparando-se para deixar a presidência da entidade, cargo que assumiu em 2003, o escritor e historiador José Almino de Alencar descreve como "dramática" a situação do quadro de funcionários da casa.

- Esta é a grande frustração que eu levo na minha saída, não ter conseguido realizar nenhum concurso para contratação de servidores - diz Almino, que elogiou a escolha do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos como seu sucessor.

Apesar da dificuldade de abertura e reposição de vagas, o orçamento da casa mais do que dobrou de 2003 a 2010, passando de R$13.198.669 para R$31.602.831. Na próxima quinta-feira, Ana de Hollanda visitará a fundação.

Sader vai para instituto de Lula, diz José Dirceu

Ontem, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu comentou, em seu blog, a saída de Sader da casa e disse que ele irá trabalhar no futuro Instituto Lula, do ex-presidente, em fase de montagem.