Título: Dólar cai 0,42%, para R$1,645, menor taxa desde agosto de 2008, antes da crise global
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 05/03/2011, Economia, p. 19

Segundo analistas, entrada de estrangeiros causou queda. No ano, moeda recua 1,26%

RIO e NOVA YORK. O forte fluxo de recursos estrangeiros para o país, atraídos pela taxa de juros elevada, e a alta do preço do petróleo ajudaram a derrubar o dólar ontem, que chegou a R$1,645, menor nível desde 29 de agosto de 2008, antes do agravamento da crise financeira mundial. A moeda americana caiu 0,42% e caiu abaixo de R$1,65, mesmo depois de dois leilões do Banco Central (BC) no mercado a termo e dois no mercado à vista. No ano, o dólar já acumula desvalorização de 1,26%.

- O fluxo de recursos está bem grande, mesmo com os leilões do BC. Nossa taxa de juros está ainda mais atraente depois do aumento estabelecido esta semana pelo BC e também há a alta no preço do petróleo que afeta as moedas no mundo - afirmou o analista da Advanced Corretora de Câmbio Celso Siqueira.

Na sua avaliação, a tendência de curto prazo é que o dólar continue em queda e chegue a R$1,62 ainda este mês. Na próxima semana, acredita que atinja R$1,64.

Com a taxa de juros elevada - na última quarta-feira o Banco Central aumentou a Selic para 11,75% -, os investidores estrangeiros tomam recursos emprestados em outros países para aplicar no Brasil, onde a rentabilidade é maior. Esta estratégia, chamada de arbitragem de juros, reforça a tendência de apreciação do real.

Para o analista da Tendências Consultoria Bruno Lavieri, a atuação da autoridade monetária tem sido eficiente em conter a volatilidade da moeda americana. Desde agosto, a variação ultrapassou 1% em apenas dois pregões.

- Há uma liquidez muito grande no mundo e os juros estão baixos. Aqui no Brasil. os juros estão elevados e a perspectiva de crescimento é grande. O interesse é grande investidores e não só de especuladores - apontou.

Lavieri não acredita, no entanto, que o dólar chegue a R$1,60 no curto prazo. A estimativa da consultoria é que o dólar encerre o ano cotado a R$1,75.

Bovespa avança 1,66% na semana, mas recua na véspera do feriado

Apesar do forte movimento de queda nos negócios à vista, o mercado futuro de câmbio reservou surpresas no fim do pregão. Informações sobre o anúncio de possíveis medidas do governo na área de câmbio depois do carnaval fizeram com que o dólar mudasse de tendência e fechasse em alta. O contrato com vencimento abril subiu 0,24%, a R$1,664, após atingir a mínima de R$1,651 durante o dia.

- O mercado futuro foi afetado fortemente por rumores de que o governo está preparando medidas grandes para o câmbio depois do carnaval. Como tem um feriado de dois dias, o mercado fica vulnerável - disse o diretor de Tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer.

Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) seguiu Wall Street e fechou em queda. O Ibovespa, principal referência do mercado, caiu 0,20%, aos 68.012 pontos. Na semana, teve alta de 1,66%. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones caiu 0,7%, mesma queda registrada pelo S&P 500. O Nasdaq, por sua vez, recuou 0,5%.

A intensificação dos conflitos no Oriente Médio influenciou os investidores. E, como a Bolsa no Brasil só volta a operar na quarta-feira, investidores preferiram não se arriscar. O volume financeiro foi de R$5,35 bilhões, abaixo do que foi registrado nos últimos dias, também influenciado pelo feriado.

(*) Com agências internacionais