Título: BC e Fazenda veem desaceleração da economia, o que evitaria alta de juros
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 05/03/2011, Economia, p. 20

Sobre o forte consumo, ainda se espera que medidas de restrição surtam feito

BRASÍLIA. O governo afinou o discurso e não tem dúvidas de que o crescimento da atividade econômica está desacelerando e, portanto, reduzindo os riscos de a inflação sair ainda mais do controle. Por isso, a avaliação do Banco Central (BC) e do Ministério da Fazenda é que não há necessidade de acelerar o passo da política monetária, com altas maiores de juros, como defende parte dos agentes econômicos.

Um dos sinais a sustentar essa posição é o fato de o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) ter virado 2010 com crescimento anualizado de 2,7%, abaixo do potencial, de 4% a 4,5%. Além disso, a atividade industrial recuou 0,3% no último trimestre.

- Isso mostra uma clara desaceleração. Não dá para dizer que a economia está aquecida - disse um técnico do governo. - Ela já está num ritmo de crescimento que não gera pressão inflacionária. Combater a tese de superaquecimento da economia e, consequentemente, de perigo adicional à inflação foi o mote dos comentários da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre o PIB de 2010.

No entanto, alguns dados do IBGE foram lidos como ambíguos, como a alta de 2,5% no consumo das famílias no último trimestre, vista como inflacionária. Para a equipe econômica, o dado refletiu "muito pouco" as medidas de restrição ao crédito, especialmente aquele voltado a bens de consumo duráveis, adotadas em dezembro. A partir de janeiro, o BC começou a elevar a Selic, hoje em 11,75% ao ano. Por isso, projeta um crescimento menor do consumo das famílias este trimestre.

Pelas análises da Fazenda sobre o consumo, este é afetado por três fatores: crédito, emprego e renda. Sobre o primeiro, as ações do BC evitaram um estouro. Além disso, o salário mínimo terá reajuste menor.

Ainda assim, a inflação poderá assustar um pouco até o meio do ano, alerta a equipe econômica. Quando os dados forem anualizados em junho, julho e agosto, o IPCA vai ficar acima do teto da meta, de 6,5%. A partir daí, projeta-se uma acomodação, com o índice fechando o ano em torno de 5%.

Com relação ao IPCA de fevereiro, que avançou 0,80%, chegando a 6,01% anualizados, o BC avaliou que a politica monetária ainda não teve efeitos plenos.

O BC sabe que alimentos, commodities e o próprio consumo pressionam a inflação, mas vê outros fatores para contrabalançar. Um deles é a forte desaceleração do crédito: em janeiro, os empréstimos a pessoas físicas recuaram 9,3%. Outro é o ajuste fiscal do governo, com corte de R$50 bilhões nos gastos públicos em 2011. Isso fará a demanda agregada perder força, trazendo alívio à inflação.