Título: Os soldados de Dilma
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 19/07/2009, Política, p. 6

Três ex-prefeitos de cidades estratégias e um quadro técnico fiel cuidam de abrir portas e semear o terreno para que a candidatura da ministra da Casa Civil decole sem turbulências

Uma das estratégias de marketing será desfazer a imagem de irascível e antipática que alguns veem na pré-candidata

A pré-campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República vai de vento em popa e tem até reunião marcada para esta segunda-feira, em São Paulo. Inicialmente, farão parte desse grupo um triunvirato de ex-prefeitos: João Paulo, de Recife (PE), Marta Suplicy, de São Paulo, e Fernando Pimentel, de Belo Horizonte (MG). A escolha dos três para pensar a estratégia política de agregar aliados e definir conversas com vistas a 2010 vai além do fato de estarem os três sem mandato.

João Paulo pertence ao grupo Mensagem ao Partido, do ministro da Justiça, Tarso Genro. Pimentel integra o primeiro time do antigo Campo Majoritário, que hoje responde pelo nome de Construindo um Novo Brasil. E Marta é da tendência Novo Rumo, onde estão Ruy Falcão, Gilmar Tatto e outros nomes ligados à ex-prefeita. Todos administraram cidades-polo em termos eleitorais. Marta e Pimentel comandaram as capitais dos estados que reúnem os maiores colégios eleitorais do país. E João Paulo vem de Recife, uma das principais cidades do Nordeste.

Esse grupo, além do marqueteiro João Santana, que sempre dá palpites, forma o estafe político da ministra, cuidando quase que exclusivamente de sua pré-campanha. O primeiro desafio já foi vencido: tornar o nome de Dilma consenso em quase todo o PT. A segunda fase é cuidar para que a eleição interna do PT este ano não crie abalos nem nessa preferência e, se possível construir uma chapa única, coisa que o triunvirato considera difícil, até porque o registro de candidaturas se encerra no dia 25, ou seja, resta pouco tempo para buscar consenso em torno de José Eduardo Dutra, o nome que conta com a torcida e o voto do presidente Lula. É isso que estará em discussão na reunião de amanhã.

Ciro preocupa Além do PT, o trio está encarregado ainda de aproximar os aliados da pré-campanha. Por isso, vão analisar também nesta reunião o que pode representar uma possível candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) a governador de São Paulo, numa parceria PSB-PT. Os petistas ficaram preocupados com as declarações de Ciro de que, se o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, for candidato a presidente, ele perde ânimo para a disputa. Viram na declaração de Ciro um sinal na direção dos tucanos. Afinal, querem Ciro na campanha da ministra. Ele está inclusive cotado para candidato a vice na chapa, na hipótese de o PMDB não fechar com a candidata petista.

Triunvirato José Varella/CB/D.A Press - 4/6/08

Marta Suplicy A ex-prefeita de São Paulo tem sido fundamental. Ela apresenta Dilma a setores do PT que a desconheciam e ajudar a construir imagem mais palatável da ministra junto à alta sociedade paulista.

José Varella/CB/D.A Press - 10/4/07

João Paulo Lima e Silva Ex-prefeito de Recife, deixou a prefeitura no ano passado, ao concluir oito anos de mandato com aprovação recorde. Candidato ao senado, só vai trabalhar a própria candidatura no ano que vem, quando Dilma tiver ¿alçado voo¿

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press - 30/10/06

Fernando Pimentel Saiu da prefeitura de Belo Horizonte, que ocupou por seis anos, para ajudar a ministra, dada a proximidade entre os dois. É cotado para ocupar o lugar de Dilma na Casa Civil, quando a ministra deixar o cargo em abril de 2010.

Mutirão de prefeitos

Patrícia Aranha Emmanuel Pinheiro/E M/D.A Press - 7/12/04 Coser: prefeitos terão liberdade de ação porque não estão no pleito

Uma rede de 559 prefeitos do PT em todo o país foi convocada pelo presidente da legenda, deputado federal Ricardo Berzoini, para começar a articular a campanha de Dilma Rousseff à sucessão do presidente Lula. O partido aproveitou a marcha de prefeitos a Brasília para reunir os petistas e formou uma comissão de seis administradores municipais, que se encontram ainda esta semana para traçar as diretrizes da campanha nos municípios. Uma das estratégias é furar o cerco das alianças estaduais e conseguir agregar na campanha presidencial prefeitos de partidos que poderão estar de lados opostos na eleição para governador. Berzoini lembra que na primeira vez que Lula foi eleito, em 2002, o partido tinha 187 prefeitos. Na reeleição, já eram 411.

Um dos integrantes da comissão, o prefeito de Vitória, João Coser, lembra que os prefeitos poderão agir de forma mais livre do que os governadores petistas, que estarão preocupados com a própria reeleição ou em emplacar os sucessores. ¿Como não somos candidatos, ficamos sem amarras. Já os governadores não podem chegar junto a prefeitos de partidos que não estão vinculados à chapa estadual¿, disse.

Vice-prefeitos petistas como o de Belo Horizonte, Roberto Carvalho, também serão convocados. ¿Além dos 559 prefeitos, o partido tem 423 vice-prefeitos e quase 5 mil vereadores. É missão desse exército se articular melhor para fazer a campanha, senão estaremos perdendo terreno para a oposição¿, argumenta o secretário nacional de assuntos institucionais, Romênio Pereira, responsável por coordenar a comissão.

Sem Lula A pressa do PT em articular a campanha presidencial está fundamentada no fato de ser a primeira vez, desde a volta das eleições diretas para presidente, em 1989, que o partido não terá Lula como candidato ao Planalto. Os prefeitos admitem que o desafio não é apenas tornar Dilma Rousseff conhecida, mas dar a ela munição para mostrar que conhece o país tão bem quanto Lula. ¿Ninguém melhor que os prefeitos para fazer esse diagnóstico. A vida acontece nos municípios. É ali que as políticas públicas são implementadas, testadas e o retorno da população vem mais rapidamente¿, diz a prefeita de Lauro de Freitas (BA), Moema Gramacho.