Título: O custo da crise do Senado
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 19/07/2009, Política, p. 8

Falta muito tempo ainda para elas, mas as eleições de 2010 já se revelam cheias de surpresas e situações inesperadas. São tantas, que só o tempo dirá quantas restarão para a hora em que, para a vasta maioria da população, elas vão acontecer de verdade.

Quase todas decorrem da intensidade com que o presidente Lula pisou no acelerador e antecipou o processo de escolha do nome que vai apresentar aos eleitores. Fosse porque assim preferiu, fosse porque não tinha escolha, o fato é que, ao agir dessa maneira, ele colocou em movimento um vasto conjunto de forças, seja no âmbito do governo, seja entre as oposições.

No ponto em que estamos, quando falta pouco menos de um ano para o início oficial da campanha, a vida do PT e dos partidos que giram em torno do Planalto já está praticamente centrada na eleição. Nada do que fazem ou deixam de fazer tem outras causas, tudo se subordina a ela.

Mas é a própria Presidência que leva ao máximo essa fixação. Lula e seus assessores diretos só pensam nisso, ao que parece 24 horas por dia, 7 dias da semana.

Em muitas coisas, ela não produz consequências negativas. Que diferença faz se Lula viaja para aqui ou ali acompanhado de Dilma para torná-la mais conhecida? Se vai com ela a eventos e inaugurações, se a convida para subir com ele em palanques Brasil afora?

Não é, no entanto, o caso do que estamos presenciando agora no Senado. Desde a inesperada decisão de Sarney de disputar a presidência da Casa, até os desdobramentos mais recentes, em cada momento dessa inglória crise a sucessão de 2010 foi fator determinante.

Dizer que o comportamento de Lula deriva de sua preocupação com a governabilidade é apenas uma explicação parcial. Primeiro, porque o governo não tem, atualmente, uma agenda parlamentar que o deixe vulnerável, dependente de maiorias instáveis e delicadas. Tudo que faz é tocar a vida no cotidiano, como sempre fez, sem enfrentar nenhuma ameaça à governabilidade.

Em segundo lugar, depois de sete anos, o governo já aprendeu a conviver muito bem com a atual Legislatura, conhecendo o que precisa fazer para que as coisas fluam no Senado e na Câmara. Acostumado com a turma, Lula, do alto de sua popularidade, sabe com quem falar e o que dizer.

Assim, a questão não é, propriamente, de governabilidade, mas de estratégia eleitoral. O que o Planalto faz agora, na crise, é apostar no futuro.

Tudo que acontece no Senado decorre da opção que Lula fez de ¿atrair¿ o PMDB para Dilma. Aliás, não apenas no Senado, mas na política brasileira em geral. Passamos os últimos meses sob os impactos dela e vamos viver vários outros da mesma maneira.

Quem tem o currículo do presidente não precisa de paciência para com quem lhe pergunta o que faz. Não deixa, no entanto, de ser uma opção curiosa.

Aceite-se que o PMDB tem um dote valioso para oferecer a seu parceiro em 2010. Talvez sejam seus preciosos minutos de propaganda eleitoral gratuita, talvez sua estrutura implantada em milhares de municípios em todo o país. Ë difícil dizer se são, de fato, tão importantes, mas deixemos isso de lado.

Fica a dúvida do momento de abordar a noiva cobiçada. Há alguma razão para fazer isso um ano antes? Bater-lhe à porta antes da hora não aumenta o preço? Paga-se caro e qual o benefício?

Difícil dizer. Pensando bem, manter os negociadores do partido incertos não barateia a negociação? Ou alguém acredita que o PMDB debandaria em bloco para o ninho tucano, abrindo mão de um ano inteiro de bons cargos e tantos ministérios?

Enfim, Lula sabe o que faz. O único problema é que pagamos todos por suas escolhas. O custo da crise do Senado, em termos de cidadania, vai muito além dos cálculos de conveniência eleitoral.