Título: Assassinatos e corrupcão marcam disputa pelo controle do jogo
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 08/03/2011, Rio, p. 9

Executado em novembro do ano passado, com tiros de fuzil, o sargento do Corpo de Bombeiros Antônio Carlos Macedo era um velho conhecido dos policiais federais do Rio. Seu nome apareceu em pelo menos duas das maiores operações realizadas para combater a máfia dos caça-níqueis. O assassinato, atribuído a três PMs ligados ao contraventor Rogério Andrade, foi mais um capítulo da guerra existente em torno do controle das máquinas de jogo. Uma disputa sangrenta travada principalmente pelo bicheiro Rogério e seu arqui-inimigo Fernando Iggnácio, com centenas de policiais contracenando como coadjuvantes.

Assassinado quando pilotava uma moto Harley-Davidson na Avenida Sernambetiba, na Barra da Tijuca, Macedo foi o chefe da segurança do bicheiro até o atentado a bomba que resultou na morte de Diogo Andrade, filho do contraventor. A suposta participação dos PMs na morte do bombeiro consta de uma investigação da Divisão de Homicídios (DH), que também identificou um inspetor da Polícia Civil como antigo dono do Gol usado pelos matadores. O veículo foi queimado a poucos metros do local onde Macedo foi morto.

A participação de policiais na segurança de Rogério Andrade não surpreende. Foragido da Justiça desde dezembro passado, o contraventor e seu rival Iggnácio, que também teve a prisão decretada, contam com a proteção de agentes da lei para permanecer em liberdade. Isso já foi constatado em investigações da Polícia Federal, que levaram inclusive à prisão do ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins e de um grupo de inspetores ligados ao esquema de corrupção.

Em dezembro do ano passado, a 2ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região determinou a expedição de ordens de prisão contra Fernando Iggnácio e Rogério de Andrade. As prisões foram decretadas durante o julgamento de apelações de 11 réus condenados em primeira instância por integrar a máfia dos caça-níqueis, desbaratada em dezembro de 2006, na operação Gladiador, da Polícia Federal. Desde então, Rogério e Fernando são considerados foragidos.

Na decisão do TRF foram mantidas as sentenças de dez dos acusados. Eles se dividiam em três grupos, que lutavam entre si pelo controle dos pontos de exploração ilegal do jogo. Os bandos eram liderados por Fernando Iggnácio, genro do falecido bicheiro Castor de Andrade; Rogério de Andrade, sobrinho do contraventor; e Paulo César Ferreira do Nascimento, conhecido como Paulo Padilha.