Título: ELBaradei: condições a candidatura no Egito
Autor:
Fonte: O Globo, 10/03/2011, O Mundo, p. 31

Nobel da Paz diz que emendas constitucionais são insuficientes e que votará contra no plebiscito

CAIRO. O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, afirmou ontem que pretende se candidatar à Presidência do Egito, em setembro. Mas, advertindo que a candidatura só irá adiante se houver um novo sistema democrático, ElBaradei disse, ainda, que votará contra as emendas constitucionais no plebiscito do próximo dia 19. Para ele, o país precisa de uma nova Constituição, e não de emendas.

Em entrevista à TV egípcia, o Nobel da Paz criticou as emendas, classificando-as de superficiais. Ele lançou uma apelo à junta militar que governa o país para refazê-las ou adiar o plebiscito. As emendas, propostas após a queda do ditador Hosni Mubarak em fevereiro, limitam o mandato presidencial a dois períodos de quatro anos; e abrem a chance para independentes e opositores concorrerem. Mas, segundo ElBaradei, não limitam os poderes do presidente, nem dão tempo para os partidos se organizarem.

¿ Vou votar contra ¿ disse à ONTV. ¿ Seria um insulto à revolução recuperar essa Constituição, em vez de uma nova, uma eleição presidencial e uma parlamentar.

No entanto, ElBaradei ¿ que voltou ao Egito no início das manifestações populares contra Mubarak, mas que acabou tendo um papel pouco ativo no levante ¿ disse que está em seus planos se candidatar. Outro possível candidato é o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa. Uma enquete do jornal ¿al-Ahram¿ indica uma larga vantagem de Moussa sobre ele.

¿ Quando as portas das candidaturas presidenciais se abrirem, eu pretendo me inscrever ¿ disse ElBaradei.

Violência sectária deixa 13 mortos no Cairo

Ontem, a junta militar pediu união depois que 13 pessoas foram mortas em confrontos entre muçulmanos e cristãos coptas no Cairo, na mais violenta disputa religiosa desde a queda de Mubarak. Mais de 140 pessoas ficaram feridas.

O confronto começou quando muçulmanos atacaram milhares de cristãos que protestavam contra o incêndio de uma igreja na semana passada. Os coptas bloquearam uma estrada, queimaram pneus e atiraram pedras nos carros. Aparentemente, a igreja foi incendiada por islâmicos após uma briga envolvendo um relacionamento entre uma muçulmana e um cristão. O caso alimenta ainda mais as tensões sectárias no país ¿ bastante exacerbadas, sobretudo após um atentado que matou 23 pessoas numa igreja copta em Alexandria no início do ano.