Título: Derretimento de polos é acelerado
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Fonte: O Globo, 10/03/2011, Ciência, p. 32

Perdas na Antártica e na Groenlândia já respondem por mais de um terço da elevação do mar

WASHINGTON. As camadas de gelo da Groenlândia e Antártica estão perdendo as suas massas num ritmo mais acelerado do que se estimava e este derretimento já se tornou a maior fonte de elevação do nível dos oceanos no planeta. É o que indica uma pesquisa ¿ a maior já realizada sobre o tema ¿ que será publicada este mês na revista ¿Geophysical Research Letters¿, da União Geofísica Americana. Atualmente, dos estimados 3 mm ao ano de elevação do nível dos oceanos atribuídos ao aquecimento, 1,3 mm estaria diretamente ligado às regiões polares.

A perda de mantos de gelo ¿ áreas de mais de 50 mil quilômetros quadrados que só existem na Groenlândia e na Antártica ¿ é um dos fatores responsáveis pelo aumento da temperatura da Terra. Segundo os autores, as camadas de gelo dessas regiões estão diminuindo mais rapidamente que os glaciares das montanhas ¿ que chegam ao mar por meio de rios e lagos ¿ e serão o principal fator para a subida global do nível dos mares, muito antes do que fora estimado por especialistas. Para se ter uma ideia, somente em 2006 as regiões polares perderam, em média, uma massa combinada de 475 gigatoneladas, uma quantidade suficiente para elevar o nível global do oceano em cerca de 1,3 milímetro ao ano; enquanto os glaciares das montanhas perderam 402 gigatoneladas no mesmo período.

Risco para os países insulares e costeiros

Segundo os cientistas, a análises dos dados de seus satélites entre 1992 e 2009 revelaram que a cada ano durante o curso do estudo as camadas de gelo das regiões polares perderam uma média combinada de 36,3 gigatoneladas a mais que no ano anterior.

¿ Não surpreende que as camadas de gelo serão a principal causa do aumento do nível do mar no futuro, já que elas possuem uma massa de gelo muito maior do que os glaciares de montanhas ¿ afirma Eric Rignot, líder do estudo e pesquisador da Universidade de Califórnia. ¿ O que surpreende é que isto já está ocorrendo.

Se essa tendência permanecer nos próximos 40 anos, comenta Rignot, é provável que o aumento do nível do mar seja significativamente maior do que os níveis projetados pelo Grupo Intergovernamental de Analistas sobre Mudança Climática (IPCC) em 2007. E a perda acumulada poderia elevar o nível do mar em até 15 centímetros em 2050. Para 2100 estima-se que esse aumento seria de 56 cm.

O IPCC chegou a prever um aumento máximo de 59 cm, mas na época reconheceu que esse número era subestimado, pois o conhecimento dos processos que afetam as camadas de gelo eram insuficientes.

A pesquisa de Rignot associou duas metodologias diferentes. Uma calcula o ganho e a perda de gelo por meio da combinação de vários tipos de leitura de satélites e dados obtidos no terreno, como a espessura da camada de gelo e a velocidade com que as geleiras estão se movendo. Outros dados são da missão Grace, da Nasa, que usa satélites para medir as variações na atração gravitacional. A perda de gelo causa a redução na gravidade naquele ponto da superfície da Terra.

Desde 2007, outros grupos de pesquisadores, usando métodos diferentes, concluíram que um índice entre um e dois metros de elevação dos mares teria consequências graves para os países insulares e as nações com longas linhas costeiras baixas, como, por exemplo, Bangladesh.

¿ Nosso estudo ajuda a reduzir as incertezas nas projeções de curto prazo sobre o aumento do nível do mar ¿ afirma Rignot.