Título: A inadimplência vai subir este ano
Autor: Gomes, Wagner; Lignelli, Karina
Fonte: O Globo, 13/03/2011, Economia, p. 27

SÃO PAULO. O aumento do crédito impulsionou a economia e levou ao PIB recorde de 7,5% em 2010. Mas também trouxe "vulnerabilidade" ao sistema, segundo o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas. Ex-diretor do Banco Central, Freitas elogiou as medidas do BC, embora tenham demorado a sair.

O crédito no Brasil dobrou em relação ao PIB durante o governo Lula. Isso foi bom para o país?

CARLOS THADEU DE FREITAS: O crédito estava reprimido desde 1999, quando houve a crise cambial. Assim que Lula assumiu a Presidência, a torneira de crédito voltou a abrir, resultado da queda de juros provocada pela inflação mais baixa. Os prazos de financiamentos também ficaram maiores. Isso trouxe uma certa vulnerabilidade ao sistema, que acabou sendo corrigida pelo Banco Central (BC) no fim do ano passado.

Mas o aumento do crédito não teve efeito positivo?

FREITAS: Temos que admitir que o crédito foi muito importante para o país crescer. Só a renda disponível não seria suficiente para fazer a atividade econômica e o comércio crescerem. Daqui para frente, as linhas com garantia, como financiamento de veículos e consignado, devem continuar crescendo. O consignado já representa dois terços do crédito pessoal e vai continuar crescendo.

As medidas do BC para esfriar a economia não demoraram para serem anunciadas?

FREITAS: Talvez tenham demorado um pouco. Não entramos em um ciclo alto de inadimplência porque o Brasil hoje tem outra condição. Temos reservas e não estamos sujeitos a choques externos como no passado. A inadimplência vai subir este ano, mas não vai explodir.

Havia a expectativa de uma bolha de crédito?

FREITAS: O Brasil tem uma das taxas de juros mais altas do mundo. Isso freia qualquer tipo de bolha de crédito. Ninguém pega dinheiro com taxa muito alta a não ser que não tenha outra alternativa. O juro do cheque especial e do cartão de crédito é muito alto.