Título: Entendimento cultural é a receita
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 13/03/2011, Economia, p. 32

Estratégia antichoque prepara os brasileiros que vão para o exterior

Ao intensificar sua atividade no exterior, a Vale se deu conta de que era preciso não apenas buscar profissionais tecnicamente competentes para tocar seus projetos, como também prepará-los para eventuais dificuldades de adaptação à cultura local. Por isso, montou uma verdadeira estratégia ¿antichoque cultural¿.

Quem é designado para assumir um posto lá fora passa por um treinamento, com especialistas dando informações sobre a história e os costumes do país de destino. A ideia é que, ao chegarem a países mais exóticos, como Moçambique, os funcionários encarem com naturalidade cerimônias de culto aos antepassados, por exemplo.

Os empregados que não são transferidos para o exterior mas falam frequentemente com pessoas de outros países ou fazem viagens a trabalho também têm à sua disposição uma ferramenta na intranet com uma lista de todos os países nos quais a Vale atua. Para saber a língua oficial de um país ou que roupa usar em um jantar de negócios, basta clicar no ícone.

A baiana Hanna Meirelles, de 30 anos, é uma das funcionárias da Vale que está passando uma temporada fora. Contratada pela Vale em 2006, quando trabalhava em Moçambique a serviço de uma empresa da África do Sul, ela foi transferida para a Austrália em meados de 2010, para ocupar o cargo de gerente de Processos de Recursos Humanos.

Integração com mão de obra local não é imediata

Ao chegar lá, percebeu que o treinamento que ela e outros brasileiros haviam recebido não era suficiente para promover uma ampla integração com os funcionários locais. Os australianos estranhavam comportamentos dos brasileiros como sair para almoçar com os colegas e pequenos atrasos em reuniões.

¿ Os australianos preferem chegar mais cedo ao escritório, por volta das 6h30m, e não sair para almoçar. Querem voltar cedo para casa e pegar os filhos na escola. Eles costumam levar comida ou pedir almoço. Sempre achavam que nós, brasileiros, estávamos nos divertindo no almoço, quando, na verdade, discutimos muito sobre os negócios durante a refeição ¿ diz Hanna.

Workshop para resolver mal-estar com australianos

Por essas e outras, Hanna montou um workshop em que as diferenças entre as duas culturas foram esclarecidas. Só assim um certo mal-estar que ficava no ar foi eliminado. Para ela, o entendimento entre as diversas culturas é a chave para a globalização da Vale.

Nascida em Salvador, Hanna não dispensa a musicalidade com a qual aprendeu a conviver desde menina. Assim que chegou a Brisbane, cidade onde fica o escritório da Vale na Austrália, matriculou-se em uma academia de dança e ioga para matar a saudade do Brasil. E aprendeu a gostar de esportes locais, como o mergulho. (Danielle Nogueira)