Título: Metade dos moradores de vilarejo desaparece
Autor: Sarmento, Claudia
Fonte: O Globo, 13/03/2011, O Mundo, p. 34

Pequena cidade da província de Miyagi busca 10 mil pessoas; ONU coordena equipes de resgate enviadas por oito países

TÓQUIO. Enquanto boa parte das atenções do planeta está voltada aos riscos de um acidente nuclear, milhares de japoneses das áreas mais afetadas pelo terremoto enfrentam a ameaça de réplicas e mesmo de exposição à radiação para buscar parentes engolidos pelas ondas gigantes. Com o número de mortos na tragédia podendo chegar a 1.700 segundo a imprensa local, somente na pequena cidade de Minamisanriku, na província de Miyagi, cerca de 10 mil pessoas estão desaparecidas ¿ a metade da população. O governo japonês mobilizou 50 mil homens para trabalhar nas buscas e pediu ajuda às Nações Unidas, que vão coordenar, inicialmente, equipes de resgate de oito países.

Em toda a região afetada pela tragédia, pelo menos 215 mil pessoas estão em abrigos públicos. A Defesa Civil acionou helicópteros para ajudar nas buscas e, além do desafio de encontrar sobreviventes sob os escombros de desmoronamentos, há temores de que muitas vítimas tenham morrido afogadas. Submersa, a pequena Minamisanriku ¿ que sobrevive do turismo e da pesca ¿ amanheceu coberta por entulho e com alguns focos de incêndio. Com a metade da população desaparecida, não há informações sobre o andamento das buscas. A agência Kyodo confirmou apenas que 7,5 mil pessoas conseguiram ser removidas para abrigos.

Emissoras transmitem apelos de parentes de vítimas

Diante do sumiço de vilas inteiras varridas pela tsunami no litoral norte do país, até a noite de ontem equipes de socorro não conseguiam chegar às regiões mais afetadas, nas províncias de Miyagi e Fukushima. Cerca de 1,4 milhão de casas estariam sem água e três milhões, com o fornecimento de eletricidade suspenso. Com a rede de telefonia paralisada, emissoras de rádio e TV transmitiam os apelos daqueles que tentavam localizar parentes ou avisar que estavam vivos.

¿ Aqui é Kimura Ayako em Sapporo, procuro pelos Tanakas em Soma. Estamos bem. Por favor, informem onde estão ¿ pedia um homem à rede NHK.

Apesar das especulações sobre a radiação nuclear acima da média, moradores da província de Fukushima atravessavam um mar de lama para buscar sobreviventes e pertences na pequena cidade de Minamisona. Quando o dia amanheceu, era impossível distinguir a fronteira entre o mar e o continente, e imensos blocos de concreto boiavam nas águas turvas. Muita gente se aglomerava na prefeitura em busca de listas com os nomes de quem foi removido para abrigos públicos.

Em frente à casa destroçada e ao carro revirado, um homem gritava pelo pai, de 74 anos, desaparecido. Dos oito integrantes da família, ele era o único que estava em casa, sozinho, no momento do sismo.

¿ Eu telefonei logo depois do terremoto e ele disse: `Está tudo remexido dentro de casa, mas estou bem¿ ¿ contou o homem, revirando o entulho.

O vizinho, Satoshi Takada, de 59 anos, observava em silêncio:

¿ A casa que ficava aqui do lado acabou. A outra também. Não há sinal do que era minha plantação de arroz. Estou devastado, pensando no que fazer.

Na capital da província de Miyagi, Sendai, arrasada pela fúria da água, os corpos de pelo menos 200 pessoas que morreram afogadas foram transferidos a ginásios das localidades vizinhas de Iwanuma e Natori. Poucas lojas abriram as portas e, mesmo sem água ou luz, os moradores mantinham a calma.

¿ Não houve desmoronamentos no meu bairro. Nas poucas lojas abertas, as pessoas estão fazendo filas organizadas para comprar alimentos, sem empurra-empurra ¿ contou o professor britânico Michael Tongue, morador de Sendai.

A pedido do governo do Japão, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (Ocha) vai supervisionar o trabalho de equipes de socorro de Austrália, Estados Unidos, Coreia do Sul, Nova Zelândia, Alemanha, Cingapura e México. O Reino Unido também anunciou o envio de especialistas em desastre, incluindo médicos.

Segundo a porta-voz do Ocha, Elisabeth Byrs, equipes de salvamento de outros 39 países ofereceram auxílio e estão prontas para atuar ¿ desde que o governo local peça auxílio.