Título: Entrevista: Giora Becher
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 19/07/2009, Mundo, p. 20

Às vésperas da primeira visita de um chanceler israelense ao Brasil, em duas décadas, o embaixador do país em Brasília, Giora Becher, avalia esse como o melhor momento da relação bilateral nos últimos anos. Apesar disso, defende que, tanto no campo econômico, quanto no político, a interação pode avançar. Para Becher, o fato de o novo governo israelense ser composto por líderes mais conservadores, como o premiê Benjamin Netanyahu, e o próprio chanceler, Avigdor Lieberman, não será empecilho para o diálogo com o Brasil. ¿Essa vai ser uma oportunidade para nosso chanceler expressar suas ideias e a política do novo governo, que é de garantir a paz no Oriente Médio com segurança para Israel¿, disse, em entrevista ao Correio. Ele garante que a intenção do governo israelense não é ditar como deve ser a relação entre Brasil e Irã, mas ¿falar abertamente e entender melhor o que cada lado pensa¿ sobre Teerã.

Oportunidade real de diálogo aberto Aureliza Correia/Esp.CB/D.A Press - 28/4/09

O Brasil é um dos primeiros países a ser visitado pelo chanceler Avigdor Lieberman. Isso simboliza um grande interesse do novo governo israelense em estreitar as relações bilaterais? Certamente. O novo governo de Israel quer demonstrar a atenção que vai dedicar ao continente latino-americano e ao Brasil, o país mais importante (da região). As relações entre Israel e Brasil já são muito boas, mas podemos e devemos fazer mais, não só nos campos econômico e político, como também no cultural e no do turismo. Do ponto de vista econômico, o comércio entre os dois países movimenta US$ 1,5 bilhão. Acreditamos ser possível chegar a US$ 3 bilhões, principalmente após a ratificação do Tratado de Livre Comércio entre Israel e países do Mercosul.

Mas a conversa entre os dois governos também será política. O que está na pauta do encontro? Essa será uma oportunidade para os dois chanceleres trocarem ideias sobre o Oriente Médio e a América Latina. Será um momento importante para entender melhor o que se passa neste continente, quais são as perspectivas do Brasil sobre as relações com outros países, mas também para falar sobre o Oriente Médio e a capacidade nuclear e de mísseis do Irã. A proposta é falar de maneira aberta, expondo as nossas perspectivas e compreendendo melhor a forma como o governo brasileiro vê o Oriente Médio.

O Irã será o principal assunto da visita. Que tipo de ajuda Israel quer do Brasil em relação a Teerã? A ideia é que ambos os lados entendam melhor como o outro país vê a situação com o Irã. Temos mecanismos de consulta política entre os dois ministérios das relações exteriores, mas essa é uma boa oportunidade para trocar ideias entre os dois governos. O que Israel deseja é que todo o mundo exerça mais pressão sobre o Irã. É melhor não permitir ao Irã se tornar um país nuclear.

O Brasil tem mantido certa aproximação com o Irã, evidenciada com o anúncio da visita do presidente Mahmud Ahmadinejad ao Brasil, que foi cancelada de última hora. Lieberman deverá pedir um afastamento do Brasil em relação a Teerã? Não acredito que esse seja o motivo da viagem. A ideia é falar abertamente e entender melhor o que cada lado pensa. Depois, os dois governos vão analisar se é possível mudar a política, ou algum aspecto da política, em relação ao Irã.

O novo governo israelense está mais voltado à direita e o chanceler, inclusive, é um político de posições muito polêmicas em relação ao conflito com os palestinos. A composição desse governo vai atrapalhar as relações com o Brasil? Não acredito que vá atrapalhar, e essa vai ser uma oportunidade para nosso chanceler expressar suas ideias e a política do novo governo, que é de garantir a paz, com segurança para Israel. (IF)