Título: Flagrada corrupção para instalar radares
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Fonte: O Globo, 14/03/2011, O País, p. 5

Qual a utilidade de um dispositivo de controle de velocidade em uma rua de terra batida, onde carroças e bicicletas dividem espaço com poucos pedestres e galinhas ciscando? Na periferia do interior do Rio Grande do Sul, um edital prestes a ser publicado autorizaria a instalação de lombada eletrônica nessa rua. A prática aponta para uma indústria de multas no Brasil que chega a faturar R$2 bilhões por ano. Essa ruazinha no interior gaúcho é uma pista de um esquema de corrupção para instalação fraudulenta de lombadas e radares eletrônicos montado por oito empresas. Elas mantêm em seus quadros funcionários do governo gaúcho e federal, segundo mostrou reportagem exibida ontem pelo "Fantástico", da TV Globo.

A reportagem flagrou propinas e concorrências fraudadas, além de apadrinhados políticos, amigos e parentes que têm multas anuladas.

Durante uma conversa, sem saber que estava sendo gravado, Marcio Paim Velho, representante de uma das empresas, a Engebras, chegou a negociar com o repórter do "Fantástico" a instalação de lombadas e pardais, avaliando o valor da propina. Paim Velho indicou uma empresa para fazer os estudos necessários, a ACT, de Porto Alegre.

Sócios de empresa são servidores públicos

A equipe de reportagem, sem se identificar, foi recebida pelos três sócios da ACT: João Otávio Marques Neto, funcionário da Eletrosul, estatal da área energética; Gisele Vasconcelos da Silva, técnica da diretoria do Detran do RS; e Paulo Aguiar, coordenador do setor de lombadas eletrônicas e radares do Departamento de Estradas de Rodagem do estado. Aguiar responde a processo sob acusação de ter favorecido a Engebras em contrato que causou prejuízo de R$13 milhões aos cofres do estado.

A contratação da ACT, por carta-convite, envolveria uma das prefeituras, que convidaria três fornecedores a concorrer; aquele com orçamento de menor valor seria o escohido. Paulo Aguiar indicaria duas empresas parceiras que apresentariam orçamentos com valor alto. A ACT, portanto, teria garantida a vitória na escolha.

No dia marcado para o pagamento, o repórter revelou que trabalha para o "Fantástico". A negociação ilícita, registrada pelas gravações, é imediatamente negada pelos envolvidos. Paulo Aguiar, porém, deverá ser exonerado do cargo hoje.

A reportagem identificou ainda outras seis empresas em operações ilegais nos municípios gaúchos. As companhias citadas pela reportagem negaram envolvimento no caso.