Título: Governo não fez alerta nacional contra acidentes
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 12/03/2011, O País, p. 11

BRASÍLIA. O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), órgão ligado ao Ministério das Cidades, só fez campanha de prevenção de acidentes, neste carnaval, em três capitais: Rio, Recife e Salvador. Segundo o ministério, faltaram recursos para uma campanha nacional. O carnaval de 2011 bateu recordes de violência nas estradas federais, com 213 mortes e 2.441 pessoas feridas, em 4.165 colisões.

O Ministério das Cidades alega que dispunha de R$3,8 milhões para realizar a campanha no carnaval, valor que a pasta teria considerado insuficiente para uma ação de comunicação eficaz em todo o país. Por isso, a decisão de concentrar esforços nas três cidades com maior tradição de folia, focando na juventude. Segundo o ministério, foram veiculados jingles no rádio e mensagens em outdoors e diversos tipos de banners - em aeroportos, nas ruas, em ônibus e táxis.

As campanhas de educação e prevenção no trânsito são bancadas com verbas de publicidade de utilidade pública. Segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, até 9 de dezembro de 2010, o governo destinou R$293,9 milhões a esse tipo de gasto. Outros R$140 milhões patrocinaram a chamada propaganda institucional, que serve para promover o governo. No total, o governo e as estatais gastaram com publicidade R$1,1 bilhão ano passado. A Secom não soube informar quanto da verba de utilidade pública foi destinado para campanhas de trânsito em 2010. Explicou que esses dados são de conhecimento dos ministérios envolvidos.

Interino ainda comanda o Denatran

Ontem, o portal Contas Abertas divulgou que o Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito (Funset) teve 72% de seu orçamento contingenciados em 2011. Assim, dos R$690,9 milhões previstos para ações de melhoria de trânsito e redução de acidentes, R$494,2 milhões deixarão de ser usados. O dinheiro servirá para aumentar o superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública).

O Ministério das Cidades informa que a prevenção de acidentes será uma das prioridades do ministro Mário Negromonte. Desde que ele tomou posse, em 3 de janeiro, o novo ministro ainda não conseguiu nomear o diretor do Denatran. O principal órgão de trânsito do governo federal é comandado, desde 3 de janeiro, por um interino, o diretor Orlando Moreira da Silva.

Excesso de velocidade responde por 42% de multas

Embora não tenha balanço das multas de trânsito aplicadas pelos Detrans em todo o país, o Denatran registra infrações cometidas por motoristas que viajam a outros estados. De janeiro de 2004 a janeiro de 2011, foram aplicadas 26,1 milhões de multas nessa situação em que o carro do infrator tinha placa de outro estado. O levantamento mostra que o excesso de velocidade responde por 42% das autuações.

O inspetor Jerry Dias, chefe da Divisão de Multas e Penalidades da Polícia Rodoviária Federal, lamenta que o trânsito não seja um assunto tratado na maior parte das redes de ensino, como prevê a Política Nacional de Trânsito, em vigor desde 2004. Segundo ele, o tema deveria ser abordado desde a pré-escola:

- Pelo que a gente ouve, o trabalho nas escolas é quase inexistente - afirma Dias.

"Só campanha não resolve, é preciso ter educação"

Doutor em segurança de trânsito, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) David Duarte Lima afirma que campanhas superficiais não resolvem o problema. Segundo ele, é preciso informar a população sobre as razões dos riscos quando se pega o volante.

- Só campanha não modifica o comportamento. É preciso ter educação - diz David Duarte. - Quando se está a 60 quilômetros por hora, um segundo de demora para frear significa andar mais 17 metros. Pode ser a diferença entre o acidente ou não.