Título: Pesadelo por mais um mês
Autor: Costa, Célia
Fonte: O Globo, 12/03/2011, Rio, p. 12

Opesadelo do alto número de casos de dengue ainda deve durar mais um mês. O subsecretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, explicou ontem que normalmente o pico da doença ocorre em março e o declínio só começa em meados de abril. Diante desse prognóstico, as autoridades de saúde prometem intensificar as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Soranz observou, no entanto, que as chances de ocorrer uma epidemia no Rio este ano são mínimas. A preocupação é com 2012, quando, segundo ele, a cidade deve enfrentar um número ainda maior de casos.

Na capital, ainda sem as notificações de março, que não foram computadas, já são 5.064 casos desde o início do ano - 857% a mais do que no mesmo período do ano passado. Nove bairros - entre eles Centro e Bonsucesso - enfrentam o que já é considerado um surto, com incidência acima de 300 casos a cada grupo de cem mil habitantes.

No estado, são 13.114 casos. Sete cidades estão em estado de alerta devido à alta taxa de incidência de dengue e podem registrar surto. Em Bom Jesus de Itabapoana, no Noroeste Fluminense, já foi constadada uma epidemia.

Segundo dados da Secretaria estadual de Saúde, em Bom Jesus a taxa de incidência é de 1.950 casos por cem mil. Outras seis cidades estão em alerta: Cantagalo (852,4 casos por cem mil habitantes), Santo Antônio de Pádua (845,5), Magé (526,4), Cambuci (431,6), Itaocara (318,7), Seropédica (303,1) e Mangaratiba (300,2 casos).

Nos dois primeiros meses do ano, foram registrados sete óbitos no estado: um em Nova Iguaçu, um em Magé, um em Cabo Frio, um em São Gonçalo, um em Maricá, um no Rio e um em São João de Meriti. A taxa de letalidade no estado, segundo a Secretaria de Saúde, é de 0,1%.

Aumento forte, mas longe de epidemia

Ao analisar o número de casos, o subsecertário reconhece ser visível o aumento em relação aos últimos anos, mas pondera ser ainda bem inferior aos anos epidêmicos. Na epidemia de 2002, por exemplo, foram registrados 77.890 casos de dengue nos meses de janeiro e fevereiro. Em março, foram 54.223. Já em 2008, foram 25.891 casos nos dois primeiros meses e, em março, 45.567.

O município ainda não concluiu o último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (Lira), o que só deve ser feito no fim de março. Mas, diante da explosão do número de casos, é certo que o Rio tem um alto índice de infestação.

- Nesse momento é necessária uma mobilização total da população. No último Lira, realizado em outubro de 2010, percebemos que 90% dos focos de Aedes aegypti ainda estão depósitos dentro das casas das pessoas. São vasos de plantas, piscinas - frisou o subsecretário.

Soranz disse ainda que as visitas dos agentes estão reforçadas. Segundo ele, o município do Rio é o que tem maior taxa de agentes por habitantes. Com 3.200 profissionais destacados para o combate aos focos do Aedes, o índice é de um agente para cada 1.975 habitantes.

De acordo com o levantamento da Secretaria municipal de Saúde, em 2009 foram realizadas 6,3 milhões de visitas. No ano seguinte, 7,7 milhões. Para 2011, a meta é atingir 12,1 milhões.

O aumento do número de casos da doença este ano, em todo o estado, tem como causador o retorno do vírus 1 da doença, que não circulava desde 1987. Por causa disso, os mais jovens, que não tiveram contato com o vírus e portanto não estão imunizados, são mais suscetíveis a ficar doentes. Outra preocupação é com a possibilidade da chegada à Região Sudeste do tipo 4 da dengue, o que provocaria uma epidemia, já que toda a população nunca teve contato com esse vírus.

Toda febre será vista como possível dengue

Para evitar erros no diagnóstico e tratamento da doença, a Secretaria municipal de Saúde determinou que todos os casos de febre que cheguem às unidades de saúde sejam tratados, a partir de agora, como suspeitos de dengue. Além disso, segundo o subsecretário, cada unidade já tem seu plano de dengue. As pessoas que apresentares febre, dores no corpo, atrás dos olhos, nas articulações e manchas vermelhas pelo corpo devem procurar um médico imediatamente.

- Ao tratar todos os casos de febre como dengue, podemos correr o risco de aumentar o número de notificações, mas o importante é garantir que não haja erro nem demora na realização do diagnóstico - disse Soranz.