Título: Tremor desloca a principal ilha em 2,5 metros
Autor: Marinho , Antônio
Fonte: O Globo, 14/03/2011, O Mundo, p. 25

O forte tremor que sacudiu o Japão na última sexta-feira arrastou a principal ilha do país, Honshu, em 2,5 metros e deslocou o eixo de rotação da Terra em 10 a 25 centímetros. Com o abalo de 8,9 na escala Richter - a Agência Meteorológica do Japão revisou ontem para 9 graus a magnitude - a rotação da Terra acelerou-se em 1,6 microssegundo (um microssegundo equivale a um milionésimo de segundo), um pouco mais do que no terremoto do Chile, em fevereiro de 2010. O fenômeno poderá interferir na duração dos dias.

A agência meteorológica japonesa estima em 70% o risco de um novo forte terremoto nas próximas 48 horas, de magnitude 7 ou superior. Depois do dia 16, essa probabilidade cai, passando para 50% até sexta-feira. Nas 24 horas após o grande tremor, sismógrafos registraram mais de 160 réplicas, a maioria superior a 5 graus.

O abalo de sexta-feira foi resultado da abrupta liberação de energia numa falha entre as placas do Pacífico e a Americana, numa área de 400 quilômetros de comprimento por 160 quilômetros de largura. Essas placas se moveram mais de 18 metros a 24 quilômetros de profundidade, segundo o Centro de Estudos Geológicos dos Estados Unidos (USGS).

Segundo George Sand, coordenador do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, o afastamento de 2,5 metros da principal ilha mostra o tamanho do impacto.

- Essa região ainda está muito instável, e devem ocorrer outros abalos importantes. Porém, o deslocamento da ilha e do eixo de rotação da Terra não deve afetar a vida da população na área. Essas alterações são imperceptíveis.

Carlos Roberto de Souza Filho, do Departamento de Geologia da Unicamp, diz que pode ocorrer imperceptível variação, de milissegundos, na duração do dia, o que não interfere na vida no planeta:

- Essas alterações no eixo de rotação são frequentes ao longo de milhões de anos.

País registra 20% dos grandes terremotos

Thomas Ferreira Campos, do Grupo de Pesquisa e Transferência de Massa e Fluidos na Crosta Terrestre da UFRN, afirma que o afastamento de 2,5 metros não traz consequência a médio e longo prazo.

- A curto prazo deve ter destruído recifes de corais, mas nada que a própria natureza não conserte. A variação da inclinação do eixo vai alterar o tempo, mas numa fração tão pequena que só os instrumentos mais sensíveis são capazes de medir - explica.

Vale lembrar que o terremoto de 8,8 graus no Chile em 2010 mexeu no eixo de rotação da Terra e encurtou os dias, segundo a Agência Espacial Americana, em 1,26 microssegundo. Em 2004, o sismo de 9,1 no Índico reduziu o dia em 6,8 microssegundos.

Situado no Anel de Fogo do Pacífico - o arco de vulcões e fossas oceânicas que circunda o oceano - o Japão registra 20% dos tremores de magnitude 6 ou maior no mundo. E Tóquio, com 12 milhões de habitantes, está na confluência de quatro placas: Eurásia, América do Norte, Filipinas e Pacífico.

* Com agências internacionais e "New York Times"