Título: O dilema do PT
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 20/07/2009, Política, p. 4

Os petistas estão hoje com um dilema: ou ateiam fogo a essa aliança com setores mais conservadores da política e tentam, assim, resgatar os votos de opinião que acreditam ter perdido, ou seguem nesse consórcio para compensar uma possível perda dos votos de opinião com aqueles que o PMDB alimenta a pão-de-ló pelo Brasil afora

Os petistas nunca se sentiram tão inconformados diante de uma situação como a crise do Senado. Para completar, há alguns dias, viram o presidente Lula trocando juras de amor com Fernando Collor. Tem gente à beira de um ataque de nervos cada vez que abre os jornais ou liga a TV, especialmente aqueles militantes das antigas, que sempre portaram as bandeiras do partido de graça.

Essa massa petista não se sente responsável por Sarney. Não ajudou a elegê-lo. O candidato dela a presidente do Senado foi o senador Tião Vianna (PT-AC). A candidatura de Sarney foi forjada pelo PMDB, pelo DEM e pelo PTB de Fernando Collor de Mello e Gim Argello. Agora, quem tem que carregar a antipatia da opinião pública é, nesse caso, o PT, que tem no presidente Lula, seu maior ícone, um defensor de Sarney.

O que mais preocupa os petistas é que, no próximo sábado, acaba o período de inscrições de candidatos à presidência do partido. E seus líderes correm o risco de não conseguirem segurar essa massa ao lado de José Eduardo Dutra, atual presidente da BR Distribuidora, nome escolhido pelo presidente Lula e pelo antigo Campo Majoritário, hoje Construindo um Novo Brasil, para concorrer ao comando partidário.

A ideia dos petistas é aproveitar a semana para construir uma candidatura única. Por enquanto, não colou. E dificilmente vai colar. Isso porque parte da massa petista não aceita a ideia da cúpula de deixar a aliança com o PMDB para uma discussão futura e de tratar a crise do Senado como uma simples refrega entre governo e oposição. A massa petista acha que, nesse campo, quem está levando o discurso da ética são os opositores de Sarney e o PSol, e não dá para deixar que isso ocorra. Daí o inconformismo de muitos.

Na semana passada, alguns ilustres integrantes do PT que conversaram reservadamente com a coluna estavam inconformados com os comentários tucanos no plenário. Na noite em que foi votada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a turma do PSDB comentava que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, parou de crescer nas pesquisas por conta do apoio de Lula ao presidente do Senado. Deputados ligados ao governador de São Paulo, José Serra, acrescentavam que a popularidade de Lula também sofreu pequeno abalo, o que, para quem está na casa dos 80%, não é nada.

Foi esse disse me disse tucano da quarta-feira, sem dados concretos, que levou o PT a encomendar uma pesquisa de opinião para avaliar se houve estrago. Por enquanto, a maioria dos integrantes do partido tem apenas a sensação de que nada será como antes quando 2010 chegar. Nos bastidores, muitos dizem que a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), por exemplo, não conseguirá dos petistas catarinenses a candidatura ao governo estadual.

O que leva os petistas a essa sensação de perda de espaço em 2010 é o fato de que seus representantes, especialmente os senadores, chegaram ali graças aos votos de opinião e garra dos militantes incansáveis que trabalharam por amor à causa, na onda de Lula, em 2002. A diferença é que esses senadores não têm com o eleitorado o mesmo diálogo direto que é a marca registrada do presidente Lula, a quem nada afeta.

Os petistas estão hoje com um dilema: ou ateiam fogo a essa aliança com setores mais conservadores da política e tentam, assim, resgatar os votos de opinião que acreditam ter perdido, ou seguem nesse consórcio para compensar uma possível perda dos votos de opinião com aqueles que o PMDB alimenta a pão-de-ló pelo Brasil afora. E querem discutir isso na campanha interna para presidente do PT.

Só tem um probleminha: Lula acredita que essa dúvida não vale mais. E como ele deseja o casamento com o PMDB, cabe à parte inconformada do PT fazer como aquele marido que não suporta mais a mulher, ou vice-versa, mas o casal acumulou tanto patrimônio e construiu uma família tão grande, que melhor levar a união aos trancos e barrancos do que se separar e ir cada um para o seu lado.