Título: Agenda Brasil-EUA terá duas etapas
Autor: Camarotti, Gerson ; Tinoco, Dandara
Fonte: O Globo, 17/03/2011, O País, p. 10

BRASÍLIA e RIO Às vésperas do encontro entre os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama, Brasil e Estados Unidos ensaiam um processo de articulação inédita na História das relações bilaterais. O foco é a esfera econômica e comercial. Empresários e governos dos dois países trabalham em cinco áreas estratégicas: comércio; energia renovável; petróleo; produção e exportação de alimentos no mundo; e educação. A agenda é tão ampla que será discutida em duas etapas pelos dois presidentes: no próximo sábado e em junho deste ano, quando Dilma deverá visitar os EUA.

- A visita do presidente Obama acontece em um momento bastante favorável - diz o diretor de relações governamentais da Câmara Americana de Comércio, Eduardo Fonseca.

A ideia é estimular a maior participação de pequenas empresas: pelo menos metade das 16.820 firmas de pequeno porte dos EUA vende para o Brasil, o que garante àquele país US$5 bilhões por ano.

Na outra mão, o governo brasileiro acredita que, por meio do Sistema Geral de Preferências (SGP) americano - que permite a redução de tarifas de importação de países menos desenvolvidos -, as regiões mais pobres do país serão favorecidas nas vendas aos EUA. Hoje, 63% das exportações são do Sudeste.

Na área de energia, os dois países retomarão o projeto de transformar o etanol numa commodity. O produto passaria a ser cotado em bolsas de valores do mundo. A discussão sobre a barreira tarifária de 0,54 centavos de dólar por galão que os EUA aplicam sobre o etanol do Brasil passou a ser secundária.

Na conversa entre Obama e Dilma, o presidente americano dirá que gostaria que o Brasil fornecesse petróleo aos EUA.

- A conjuntura atual nos leva a crer que haverá investimentos importantes nas áreas de energia e petróleo. São duas áreas estratégicas para os EUA - reforça o diretor-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes.

Brasil e EUA são as duas maiores potências na produção de alimentos. Com a mudança do perfil de consumo no mundo, marcado pelo aumento da demanda de países como a China e, agora, o risco de desabastecimento de um dos maiores importadores do planeta, o Japão, os dois países começarão a discutir parcerias que poderiam resultar no fim de medidas protecionistas.

Carlos Alberto Vieira, do conselho de administração do Banco Safra, está entusiasmado com o encontro. Ele diz que a reunião com os presidentes deve ser um processo de estreitamento da relação entre os dois países:

- O tema da bitributação já está sendo discutido há muito tempo e estamos perto de alguns acordos importantes, que talvez sejam anunciados no sábado. Trata-se de um tema complexo, que está sendo debatido desde a Rodada de Doha, da OMC (Organização Mundial de Comércio) - disse.

Marco Stefanini, fundador e presidente da Stefanini Solutions, afirma que o evento deve apresentar avanços na área de educação. Ele está coordenando o grupo temático do setor, junto com o CEO da Motorola:

- Mesmo que os resultados não sejam conclusivos, o diálogo flui de forma muito boa. Não ficamos preocupados com problemas, apresentamos soluções.