Título: Quatro cidades com epidemia
Autor: Alves, Maria Elisa ; Mendes, Taís
Fonte: O Globo, 17/03/2011, Rio, p. 13

O mosquito Aedes aegypti tem provocado estragos na Região Serrana, na Baixada Fluminense e no Noroeste do estado. Ontem, a Secretaria estadual de Saúde confirmou que, além de Bom Jesus do Itabapoana e Magé, mais dois municípios enfrentam uma epidemia de dengue: Cantagalo e Santo Antônio de Pádua. A capital, com 7.030 vítimas, não está em situação crítica, segundo as autoridades, já que a taxa da incidência da doença é de 111 casos por cem mil habitantes. Em Bom Jesus do Itabapoana, o local mais afetado, com 866 vítimas, a taxa é de 2.447 casos por cem mil habitantes.

As cidades de Santo Antônio de Pádua, Cantagalo e Magé também estão em estado de alerta máximo. Cantagalo, embora registre apenas 262 doentes, tem uma população pequena, o que faz com que a taxa de incidência seja a segunda maior de todo o Rio: 1.321 casos por cem mil habitantes. Em Pádua, com 470 pacientes infectados, a taxa é de 1.158 casos por cem mil habitantes. Magé tem 1.368 notificações, com taxa de 599 casos por cem mil habitantes. Em todo o estado, já foram contabilizadas este ano 20.150 notificações, com 14 óbitos.

- Há outros nove municípios que também preocupam, porque estão perto da média considerada de alerta. A maioria fica na região da Baixada Litorânea. Eles estão sendo visitados por equipes da secretaria, que estão capacitando técnicos. Um dos municípios que estão sendo monitorados de perto é Cabo Frio - diz Hellen Miyamoto, subsecretária estadual de Vigilância em Saúde.

Estado usa fumacê nas áreas afetadas

Nos municípios que já estão com epidemia, para evitar a disseminação da doença e o agravamento da situação dos pacientes, a Secretaria estadual de Saúde tem tomado duas medidas: ações de bloqueio, usando fumacês, e investimento no atendimento aos doentes. Outra medida nas regiões afetadas é a montagem das chamadas "tendas de hidratação" (onde pacientes recebem soro). Ontem, em Pádua, três salas com este fim estavam sendo providenciadas. A previsão é que entrem em funcionamento hoje.

- As salas vão ter capacidade para atender 50 pessoas por vez. Fora isso, temos também o espaço de hospitais e policlínicas. A situação é ruim, mas não desesperadora - disse a secretária de Saúde de Pádua, Andréa Freire, que tomou ainda outra medida. - O paciente que apresenta sintomas da dengue é orientado a voltar, se não melhorar, dois dias depois, para ser atendido imediatamente, sem necessidade de ficar na fila.

Em Cantagalo, o secretário Márcio Borba disse que toda a população está suscetível, já que o vírus que circula na região é o 1, que ainda não tinha provocado epidemia na região. Ele chamou a atenção para outro problema: a subnotificação.

- Estamos enfrentando uma epidemia, já tivemos quase 300 casos. Como o município de Cordeiro, que é nosso vizinho, colado a Cantagalo, pode não ter um só caso? Moro lá e estou cheio de vizinhos com dengue - disse o secretário.

Segundo os dados da Secretaria de Saúde, Cordeiro registrou 52 notificações. O secretário de Saúde de Bom Jesus do Itabapoana, Luiz Armando Baldan Gusmão, disse que em dezembro a cidade apresentava risco baixo para a dengue, mas que o quadro se modificou a partir do início deste ano, quando houve um aumento no número de atendimentos:

- O que nos assustou foi o fato de não termos vivido um período chuvoso, propício para o surgimento de pequenos focos.

Enquanto três municípios com epidemia reconhecem o problema e lutam para combatê-lo, a secretária de Saúde de Magé age diferente. Contrariando os dados da Secretaria estadual de Saúde, Stela Mary nega a epidemia na cidade. Segundo ela, do total de 1.200 casos notificados de pessoas com suspeita da doença desde dezembro, só 60 foram confirmados.

- Numa cidade com 250 mil habitantes, apenas 60 com dengue não são uma epidemia - argumentou.

Na avaliação dela, a preocupação do governo do estado se justifica pela quantidade de notificações de casos suspeitos.

- O estado está em alerta, assim como nós, por causa do grande número de notificações. Nossa preocupação agora é com as chuvas fortes dos últimos dias, que podem gerar um pico de atendimento.

No Hospital Municipal de Magé, não há pacientes com dengue internados. A unidade, que chegou a atender uma média de 70 a 80 pessoas com suspeita da doença nos últimos meses, atualmente monitora 20 casos suspeitos. A pedido da subsecretária Hellen Miyamoto, o hospital criou um setor exclusivo para atendimento de suspeitas de dengue, com dois médicos de plantão e 12 leitos. Ontem de manhã, poucos pacientes eram atendidos.

- Estamos fazendo tudo por cautela. O objetivo é a prevenção, e o estado tem sido parceiro - disse a secretária de Saúde do município.

Uma das poucas pessoas que aguardavam atendimento ontem no hospital era moradora de Santo Aleixo. A paciente, que não se identificou, disse que começou a sentir sintomas da doença - febre e dor no corpo - no sábado. A cada dois dias, a jovem tem que ir ao hospital para fazer exames e controlar o número de plaquetas, que se mantém em níveis normais. Ela contou que o posto de Santo Aleixo está transferindo os casos suspeitos para o hospital de Magé.

- Não adiante nem ir lá porque eles nem atendem - disse a jovem.

Magé investiga dois casos de morte

A secretária informou que a situação é irregular. Segundo Stela, além do hospital geral, o município conta com dois outros, em Piabetá e Raiz da Serra, e cinco postos de saúde, inclusive em Santo Aleixo, preparados para o atendimento de casos suspeitos da doença:

- E o posto de saúde de Fragoso já está sendo adaptado para só atender casos suspeitos, conforme solicitação do estado. Na segunda, a unidade já estará funcionando.

Segundo Stela, não há óbitos confirmados no município. Dois casos suspeitos são investigados. Um deles é o de Jonas Balberto, de 53 anos, que morreu no dia 20 do mês passado após ir três vezes ao hospital, segundo a família. De acordo com os médicos da unidade, o paciente estava com 48 mil plaquetas.

- E o estado determina internação quando as plaquetas ficam abaixo de 20 mil - disse a secretária.

A Secretaria estadual de Saúde confirmou que, entre as 14 mortes desde janeiro, uma delas ocorreu em Magé.

Em Cabo Frio, uma das cidades que podem ter uma epidemia, se a quantidade de casos continuar aumentando no mesmo ritmo, já foram atendidas 700 pessoas com sintomas de dengue desde janeiro. Os números assustam e, em média, dez pessoas procuram diariamente a UPA da cidade com sintomas da doença. Até agora, 84 casos foram confirmados como dengue, cinco tiveram complicações de saúde por conta da doença e uma pessoa sofreu febre hemorrágica. Um paciente morreu em janeiro, vítima da dengue. Em todo o ano passado, foram notificados apenas 43 casos, contra 40 em 2009.

- Qualquer pessoa que chega aqui com sintomas da dengue é tratada como caso suspeito, até que tenhamos a comprovação dos exames de laboratório - disse a médica Cenir Amorim Pereira, diretora da UPA de Cabo Frio.

Para a médica Lucy Pires, superintendente da Saúde Coletiva de Cabo Frio, o aumento de notificações se deve à mutação do vírus, que acarretou numa elevação nos índices não só da Região dos Lagos, mas em todo o país.