Título: Novas tecnologias e acesso à educação reforçam a democracia
Autor: Rocha, Carla ; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 17/03/2011, O País, p. 12

A revolução nas comunicações alterou o rumo do debate sobre liberdade de expressão, segundo os participantes do evento promovido ontem no Rio pelo Instituto Millenium. Paulo Uebel, diretor do instituto, lembrou que é necessário melhorar a qualidade da educação como forma de reforçar a democracia no Brasil. Segundo ele, debates que podem ser incômodos para alguns precisam ser feitos para garantir a liberdade:

¿ Temos que ter cuidado com a premissa da incapacidade popular de tomar decisões.

Tonet Camargo, vice-presidente do Grupo RBS, lembrou que grande parte dos conceitos de comunicação e liberdade existentes até então está passando por revoluções com o avanço tecnológico. Ele afirmou que isso altera as lutas por democracia e que, ao mesmo tempo, causa revoluções na sociedade.

¿ O caso do Egito é um exemplo, uma revolução organizada em redes sociais, sem líderes. Quem é o Fidel Castro do Egito? Não existe. Isso é um ponto muito importante que temos que discutir ¿ afirmou Tonet, que acredita que o Estado ainda intervém muito na sociedade, citando como exemplo a relação entre empregadores e empregados, que segundo ele, sofre com uma ingerência estatal que chega a ser contraproducente.

Ele afirma que os debates têm de ser feitos de forma profunda e com o foco no cidadão, pois há armadilhas nessas questões:

¿ Em debates como este, tendemos a usar como pano de fundo a questão da liberdade de expressão. Não se pode cair nesta discussão. A intervenção do Estado na tutela do cidadão é um passo atrás e parte do pressuposto de que o cidadão é insuficiente ¿ disse. ¿ São as pessoas que decidem o que querem e o que não querem. A informação é gerada nas redes sociais e, mais do que nunca, a maioria deve ser considerada. Não podemos aceitar que uma minoria se submeta à maioria.

Avanços serão fundamentais nos próximos 30 anos

O economista, sociólogo e diplomata Marcos Troyjo disse, durante o debate em um dos painéis, que a luta pela liberdade de imprensa e de expressão passa pelo acesso tecnológico. Ele lembrou que o mundo vive um momento de transformação e que o Estado tem de ter um papel de farol neste processo, não de ¿babá¿ ou de ¿babão¿, no sentido de ultrapassado:

¿ A tecnologia terá uma importância brutal de como a democracia e a liberdade de expressão vão evoluir nos próximos 25, 30 anos ¿ afirmou.

Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado, afirmou que a sociedade está evoluindo na consolidação da democracia e do seu direito de livre-arbítrio. Otimista, ele acredita que o momento é ideal para que o Estado volte à sua função primordial:

¿ É preciso resgatar a verdadeira agenda do Estado, que deve atuar com a melhor ênfase na definição do serviço público strictu sensu, proporcionando cidadania, orientando e protegendo de alguma forma os vários interesses da sociedade ¿ disse ele, que questionou se Brasil não estaria caminhando para um ambiente de excesso de leis.

O escritor americano David Harsanyi informou que nos Estados Unidos, em geral, as leis restritivas são propostas por governos e comunidades locais, mas que o governo de Barack Obama ampliou o conceito de ¿Estado babá¿ e que isso prejudica a liberdade. Ele afirmou que, em muitos casos, isso só atrapalha:

¿ Por causa de um único garoto que se afogou, foi feita uma lei que cria um sistema de fiscalização em todas as piscinas. O custo é impressionante. Seria a mesma coisa que criar fiscais para ver como as crianças brincam nas praças, proibir as crianças de correr, e eu não quero viver em um país assim ¿ disse ele.