Título: Visita importante para setor empresarial
Autor: Weber, Demétrio ; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 18/03/2011, O País, p. 3

Para empresáriosl, conflitos árabes farão EUA privilegiarem Brasil no fornecimento de petróleo

SÃO PAULO. A visita do presidente Barack Obama ao Brasil representa uma mudança de percepção do governo americano em relação ao país. A avaliação foi feita por representantes das câmaras de comércio entre os dois países - no Brasil, a Amcham; nos EUA, o Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. Eles se reuniram em São Paulo na tarde de ontem para apresentar à imprensa a agenda econômica da viagem presidencial. Steven Bipes e Diego Bonomo, diretores do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, e Gabriel Rico, presidente da Amcham, classificaram a viagem como um momento histórico.

- A visita ao Brasil é muito importante para o setor empresarial americano - declarou Bipes.

Segundo o grupo, o Brasil passa a representar um parceiro estratégico para os EUA. Para eles, o gatilho desta mudança é a crise no Oriente Médio, que gera temor sobre o fornecimento de petróleo. O Brasil - com o pré-sal, cuja produção a médio e longo prazo será para o mercado externo, e como um dos grandes produtores mundiais de biocombustíveis - é visto como alternativa de fornecedor sem os riscos políticos e sociais das nações árabes.

- Praticamente toda a equipe econômica americana virá ao Brasil. Esta viagem acontece na hora certa e mostra o interesse dos americanos em recuperar o tempo perdido. Desde o anúncio do pré-sal, eles se interessaram pouco. Agora, com a crise no Oriente Médio, tudo mudou. Temos uma situação invejável: uma democracia consolidada, riscos menores e crescimento econômico. Serão nossa moeda de troca nas negociações por um comércio livre com os EUA, pelo fim dos subsídios agrícolas e da sobretaxa do etanol - acredita Gabriel Rico.

O discurso de Dilma Rousseff, após o anúncio de sua vitória, foi decisivo para a visita de Obama ao Brasil, antes mesmo de Dilma ir aos EUA. O compromisso de defesa dos direitos humanos assumido pela presidente impulsionou a reaproximação dos Estados Unidos, que reprovavam a relação entre o ex-presidente Lula e o Irã.

- Tudo estava parado. A viagem cria um ambiente favorável para que acordos entre os governos e negócios aconteçam - prevê Rico, que acompanhará o encontro entre 600 empresários brasileiros e americanos na tarde de sábado em Brasília. - Nunca houve um secretário de Tesouro americano tão bem informado sobre o Brasil quanto Timothy Geithner.

Além da reunião em Brasília sábado, estão previstos encontros de empresários americanos com a Petrobras e o governo do estado do Rio no domingo; e, na segunda-feira, com a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e a Amcham. A rodada de negócios que haverá no país não está prevista na visita de Obama a El Salvador e Chile.

Dilma e Obama assinarão na manhã de sábado o Trade and Economic Cooperation Agreement (Teca), que cria uma comissão para o comércio entre os dois países. Para Stephen Bipes, trata-se do primeiro passo rumo ao fechamento de um acordo bilateral entre Brasil e EUA nos moldes dos assinados com Chile e Peru. O governo americano também busca acelerar a aprovação, no Senado, de um acordo de trocas tributárias, já aprovado pela Câmara e que evitaria bitributação e possibilitaria troca de informações fiscais.

- É a primeira vez em que os EUA olham para o Brasil de forma bilateral, e não como parte da América Latina. A percepção é que o Brasil é uma potência global. Os EUA já tratam o país de igual para igual. Há até certo enamoramento, Obama elogiou diversas vezes a política brasileira de biocombustíveis. A percepção em Washington é que Brasil, China e Índia não podem ser ignorados. O Brasil também cresceu em importância nas questões de paz e segurança. Exemplo claro é o Haiti, onde o Brasil lidera a missão de paz e a reconstrução após o terremoto - conclui Diego Bonomo.