Título: De igual para igual
Autor: Weber, Demétrio ; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 18/03/2011, O País, p. 3

Patriota diz que Brasil mudou e quer ter novo tratamento por parte dos EUA

Oinistro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse ontem que o Brasil quer ser tratado "de igual para igual" pelos Estados Unidos. Ele enfatizou que a conjuntura mundial é outra, assim como o peso do Brasil no cenário internacional, o que só reforça a expectativa do governo brasileiro de receber novo tratamento da Casa Branca a partir da visita do presidente Barack Obama, amanhã e domingo.

- O Brasil quer uma relação de igual para igual. E as circunstâncias do mundo de hoje favorecem muito. O Brasil se consolidou como democracia, como economia, reduzindo a pobreza, oferecendo oportunidades, desenvolvendo uma matriz energética limpa, que contrasta com a do mundo desenvolvido - afirmou o chanceler.

Para ele, o mundo é cada vez mais multipolar, envolvendo países na busca de soluções para problemas.

- Dos nove presidentes americanos que visitaram o Brasil, esta será a ocasião em que um presidente norte-americano encontrará o Brasil em melhores condições econômicas e políticas - afirmou Patriota. - E o que nós queremos? Multipolaridade da cooperação, não multipolaridade da rivalidade, do antagonismo, da confrontação.

Patriota disse não ter bola de cristal para saber se Obama manifestará apoio ao pleito brasileiro de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas ponderou que uma mera declaração do presidente, a exemplo da que fez em favor da Índia, no ano passado, não basta. Ele lembrou que qualquer mudança requer dois terços dos votos na Assembleia Geral e o aval dos cinco membros permanentes do Conselho: EUA, Rússia, China, Reino Unido e França.

Sanções contra Irã não deram certo

Patriota admitiu que as divergências em torno do programa nuclear do Irã esfriaram a relação do Brasil com os EUA, no ano passado. Disse que o assunto poderá ser discutido por Dilma e Obama, só que a partir de novas bases, uma vez que as sanções econômicas adicionais contra o Irã não resolveram o problema. De forma velada, ele criticou a atitude dos EUA de anular o acordo para enriquecer urânio iraniano no exterior, assinado em Teerã com a mediação de Brasil e Turquia. Na época, os americanos convenceram o Conselho de Segurança da ONU a adotar sanções contra o Irã.

- As sanções adicionais adotadas em 2010 não contribuíram, até agora, para que houvesse qualquer concessão do governo iraniano. No acordo, havia concessões. Foi uma oportunidade perdida - comentou.

Patriota não detalhou os acordos que serão assinados durante a visita. Ele deu como praticamente certa a aprovação de um tratado de cooperação econômica e comercial. Indagado sobre o entusiasmo do governo americano em vender produtos para a América Latina, num momento em que o Brasil amarga déficit bilionário na balança comercial com os EUA (quase US$8 bilhões em 2010), o chanceler disse que o tema será debatido.

O chanceler destacou a disposição brasileira e americana de intensificar parcerias nas áreas de ciência, tecnologia e educação. Em relação ao pré-sal, afirmou que a presença de um número expressivo de empresários americanos indica que "poderão surgir conversas interessantes".