Título: Arruda diz que ajudou novo presidente do DEM
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Fonte: O Globo, 18/03/2011, O País, p. 14

Ex-governador do DF acusa vários políticos de envolvimento em esquema de captação de recursos para campanhas

BRASÍLIA. Depois de várias ameaças, o ex-governador José Roberto Arruda, expulso do DEM no auge do escândalo do mensalão no governo do Distrito Federal, envolveu ontem vários políticos no esquema de captação de recursos junto a empresários - supostamente ilegal - para financiar suas campanhas. Ele disse, em entrevista à "Veja Online", que ajudou não só políticos do DEM - como o novo presidente da legenda, senador José Agripino Maia (RN) -, mas também integrantes do PSDB e de outros partidos, como o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

Com o discurso de que não fez nada além do que é feito por toda a classe política na captação de recursos para campanhas eleitorais, Arruda sugere na entrevista que o dinheiro era ilegal, mas que é assim que se faz campanha no Brasil.

O ex-governador, que renunciou ao cargo para não ter o mandato cassado e depois passou dois meses preso na Polícia Federal em Brasília, disse na entrevista que fez todos os repasses para o DEM, com o aval do então presidente, Rodrigo Maia (RJ).

Ele citou pelo menos uma dezena de políticos que teriam lhe pedido recursos para campanha: além de José Agripino e Cristovam Buarque, os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO), Marco Maciel (DEM-PE) e Sergio Guerra (PSDB-PE) e os deputados Ronaldo Caiado (DEM-GO) e ACM Neto (DEM-BA), e o ex-ministro tucano José Eduardo Caldas Pereira. Todos negaram que a origem dos recursos era ilegal e ameaçaram processar Arruda.

Segundo Arruda, quem ele não ajudou dessa forma foi ajudado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que está saindo do DEM.

- Eu era o único governador do DEM. Recebia pedidos de todos os estados. E atendi dos pequenos favores aos financiamentos de campanha.

Perguntado de que modo conseguia o dinheiro para ajudar colegas de partido, disse:

- Os senadores Demóstenes Torres e José Agripino Maia, por exemplo, não hesitaram em me esculhambar. (...) Em 2008, o senador Agripino veio à minha casa pedir R$150 mil para a campanha da sua candidata à prefeitura de Natal, Micarla de Sousa (PV). Eu ajudei. O senador Demóstenes me procurou certa vez pedindo que eu contratasse no governo uma empresa de cobrança de contas atrasadas. O deputado Ronaldo Caiado, outro que foi implacável comigo, levou-me um empresário do setor de transportes que queria conseguir linhas em Brasília.

Agripino Maia negou que tenha pedido ajuda de Arruda:

- Arruda tem razões para mágoa. Eu, Demóstenes e Caiado pedimos sua expulsão sumária do DEM. Essa informação dele é totalmente infundada, repilo à altura. Mas ele cita Micarla e diz que ela, inclusive, foi à casa dele agradecer. Que ela seja ouvida. É uma coisa checável.

O secretário-geral do PSDB, Eduardo Jorge, confirmou que pediu ajuda dele no início de seu governo no DF para saldar dívidas do partido. Afirmou que a ajuda teria sido feita por "um empresário amigo" a partir da interferência de Arruda e que a doação foi oficialmente declarada à Justiça eleitoral, mas não soube informar qual o valor nem identificou o doador:

Rodrigo Maia admitiu à "Veja" que Arruda era influente e ajudou o partido, mas negou que os recursos eram ilegais e que o ex-governador tenha ajudado na campanha do Rio.