Título: Obama diz que vaga na ONU pode demorar
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 21/03/2011, O País, p. 16

Em conversa com Dilma, presidente sugere que discussão sobre postulação brasileira ocorra "de forma mais ampla"

BRASÍLIA. Na reunião reservada que teve com a presidente Dilma Rousseff no último sábado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, manifestou com mais clareza sua posição a respeito do pleito do Brasil de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Obama disse que tem "enorme simpatia" pela postulação brasileira, mas ponderou que talvez não seja possível concretizá-la a curto prazo. Chegou a sugerir uma estratégia para que o Brasil atinja seu objetivo.

"Tenho enorme simpatia por essa postulação do Brasil. Talvez não possamos fazê-lo num prazo muito curto, porque, você sabe, esse tipo de decisão gera um amigo, mas a gente ganha uma porção de inimigo. Quem sabe a gente constrói uma estratégia de colocar esse assunto de uma forma mais ampla", disse o presidente americano, segundo relato de um participante.

México também gostaria de integrar conselho

No comunicado conjunto divulgado após o encontro reservado, Obama manifestou "apreço" à aspiração brasileira, mas as conversas reservadas reforçaram a avaliação positiva feita pelo núcleo do governo sobre a viagem do presidente.

Para os Estados Unidos, é difícil declarar em público um apoio tão assertivo ao Brasil quanto o dado à Índia em novembro do ano passado. Existe a preocupação em não causar constrangimento, por causa dos vizinhos mexicanos. O México já deu sinais de que também gostaria de representar a América Latina no conselho.

Um aspecto ressaltado por integrantes do governo no dia seguinte à passagem de Obama por Brasília foi a grande empatia entre Dilma e Obama.

- São pessoas com formação técnica e política parecidas, com uma curiosidade intelectual muito grande. Houve grande identificação e a reunião reservada, que era para durar 40 minutos, estendeu-se por quase duas horas. Desse ponto de vista foi muito bom, criou-se um canal direto entre os dois. Quando um quiser ligar para o outro, o fará sem nenhum constrangimento, é um canal muito forte. Será muito positivo para o futuro, não tenho dúvida - disse uma fonte.

Outro aspecto observado foi o ótimo astral de Obama e o clima amistoso nos encontros com a equipe de Dilma. Obama foi muito simpático nos encontros reservados e mostrou grande sensibilidade, segundo um integrante do governo.

Ao referir-se à Líbia, na conversa reservada com Dilma Rousseff, o presidente americano chegou a externar um tom emocionado.

- Presidente, às vezes a gente tem que tomar decisões premido pelas circunstâncias. Não é o que se quer, é o que deve ser feito naquele momento - teria dito.

Mas nos demais momentos demonstrou grande descontração e chegou a brincar com a equipe de Dilma:

"Tudo que não avançou aqui, tratem de fazer avançar", disse o presidente Obama, referindo-se aos temas da pauta econômica, segundo relato de participantes.

A presidente Dilma teria concordado, reforçando que a sua equipe vai trabalhar firme para que a agenda avance.

Segundo interlocutores, no fim do primeiro dia da visita de Obama ao Brasil, Dilma estava muito cansada, mas também muito satisfeita. Segundo fontes, os dias que antecederam a visita foram muito tensos para a presidente, porque, até a véspera da chegada de Obama, o Itamaraty ainda trabalhava com a expectativa de cancelamento da viagem por causa da crise na Líbia.