Título: Múcio longe dos holofotes
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 25/07/2009, Política, p. 3

Às vésperas de ser indicado para o TCU, ministro de Relações Institucionais submerge na crise do Senado. Para não ter atritos em sabatina, ele decidiu cuidar apenas das emendas dos parlamentares

Múcio: com a saída de cena na crise no Senado, ministro trabalha pela liberação de emendas a parlamentares

Na expectativa de ser indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Tribunal de Contas da União (TCU), o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, submergiu estrategicamente nos últimos meses. O articulador político do governo encampou a luta de deputados e senadores da base aliada em conseguir a liberação de recursos das emendas individuais dos parlamentares junto à área econômica. A tática pessoal de Múcio é angariar simpatia dos congressistas e diminuir eventuais resistências na sabatina pela qual passará no Senado após o recesso parlamentar.

Não é à toa que o ministro tem tido uma atuação discreta na crise por que passa a Casa e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). No final de junho, Múcio fez a defesa mais enfática de Sarney, acossado por uma série de denúncias. ¿O apoio do governo ao presidente José Sarney já foi dito, é absoluto¿, afirmou ele, após um encontro da coordenação política com a presença de Lula. Em 13 de julho, numa outra reunião ministerial, ele afirmou que a crise do Senado estava em fase de ¿superação¿. Desde então, não fez qualquer declaração pública sobre o caso, mesmo com novas denúncias envolvendo José Sarney.

Múcio, aliás, tem relacionamento conturbado com os peemedebistas. Em maio, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), estudou pedir a Lula a cabeça do articulador político. O partido tinha dois motivos para tanto. Debitaram na conta dele parte da derrota no final de 2007 com a derrubada da prorrogação da extinta CPMF no Senado. Outro fator teria sido o afastamento na eleição de Sarney para comandar a Casa, em fevereiro passado. ¿O quadro ideal é o que estava combinado, com Temer na Câmara e Tião (Viana) no Senado. Uma mudança mexe com o equilíbrio de forças no Congresso¿, chegou a declarar a 15 dias das eleições.

Missão A última tarefa de Múcio no governo é garantir o empenho das emendas, o que, por tabela, facilitaria o trabalho do seu sucessor. O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), é o mais cotado para ser ungido ao posto. Por isso, os dois trabalham em sintonia fina para debelar uma eventual crise na base aliada, à míngua de recursos. ¿O ministro Múcio está empenhadíssimo em resolver a questão das emendas¿, afirmou o líder do PTB e correligionário, Jovair Arantes (GO). ¿Ele não tem culpa sobre isso¿, reforça o petebista, apontando os ministérios do Planejamento e da Fazenda como vilões das emendas.

O ministro tem pavimentado seu caminho para o TCU desde o início do ano discretamente. Múcio deixou sua concorrente direta, a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, colocar seu nome para consulta do Planalto. Guerra é o braço direito da ministra Dilma Rousseff, mas desistiu da vaga por causa da doença da titular da Casa Civil. Com a diminuição da carga de trabalho de Dilma, concentrando-se na campanha de 2010, a secretária-executiva se tornou na prática a gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).