Título: Um negócio da China para a Turma da Mônica
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 20/03/2011, Economia, p. 43

Quadrinhos de Mauricio de Sousa chegam para 200 milhões de crianças chinesas. Desenhos animados são os próximos

EM MANDARIM: revistinhas disputam o maior mercado global. À esquerda, o autor e as suas criações

BRASÍLIA. Se não pode vencê-los, junte-se a eles. A Turma da Mônica desembarcou na China e está pronta para invadir o maior mercado do mundo. Um projeto inovador está levando as revistinhas da turma a mais de 200 milhões de crianças chinesas ¿ público superior a toda a população brasileira. Na sequência, desenhos animados produzidos no Brasil e dublados na própria China chegarão em breve às telinhas dos novos fãs da ¿Moniká¿, como os chineses chamam a personagem de Mauricio de Sousa, em diversas províncias.

O faturamento do empreendimento ¿ que ainda dissemina a cultura brasileira na China, com histórias que vão desde o ¿Descobrimento do Brasil¿ a ¿Aleijadinho¿, passando pela primeira missa rezada em terras tupiniquins ¿ ainda é considerado pequeno. Gira em torno de US$100 milhões a US$180 milhões anuais. Mas isso é só o começo.

A promessa de novos negócios, como tudo na China, é gigantesca para a Mauricio de Sousa Produções (MSP). Por trás do projeto cultural, está a vontade de fixar a marca no país para, então, fazer deslancharem os negócios e acionar a máquina registradora. A MSP se prepara para lançar no mercado chinês produtos como roupas de banho, roupas de cama, fraldas, entre outros itens voltados para o mercado de consumo com as imagens da Turma da Mônica. Os rendimentos virão sob a forma de receitas com licenciamento. Trata-se da exportação de serviços e royalties, com alto valor agregado, usando como commodity a imagem do Brasil lá fora.

Ao GLOBO, Mauricio de Sousa disse que, por enquanto, é impossível falar em cifras, mas garantiu que o licenciamento pode cobrir em um ano os investimentos de uma década da empresa na China:

¿ A nossa regra é seguir devagar e sempre. O objetivo é a fidelização do consumidor e, com isso, garantir que a nossa marca seja permanente. Estamos na quarta geração de consumidores da Turma da Mônica. Nunca estivemos tão fortes ¿ garante. ¿ Não poderia planejar meu futuro de desenhista, que é o que gosto de fazer, sem ter os negócios ao lado. Ninguém consegue. Estamos falando de industrialização.

Personagens fora de moldes colonizadores

Os quadrinhos agradaram aos chineses por tratarem de temas universais e fugirem de ¿moldes colonizadores¿ de outros personagens. Já os nomes dos companheiros da Mônica mudaram para entrar na China, com a versão fonética em inglês: Jimmy (Cebolinha), Smudge (Cascão) e Maggy (Magali).

¿ Estou sempre falando com uma pessoa só, olhando nos olhos de uma criança só. Olhos nos olhos sempre fez a gente se entender melhor. Talvez por isso nosso material seja planetário ¿ explica o autor.

O projeto também tem caráter ecológico. Em vez de editar 200 milhões de revistinhas em papel, o projeto leva os quadrinhos às crianças por um portal educativo por meio da internet nas escolas públicas do país. Com isso, estima-se em 18 mil o número de árvores poupadas pela iniciativa. As historinhas também têm saído nos suplementos infantis de vários jornais provinciais.

O programa teve início em 2007. Começou com a necessidade de se produzir material mais brasileiro para um grupo de crianças chinesas nascidas no Brasil e enviadas ao país de origem para estudar. A preocupação do governo brasileiro era que estes pequenos estavam ficando muito afastados da cultura de seu país natal. O material acabou fazendo sucesso com as outras crianças.

A ideia acabou sendo encampada por um chinês que, em parceria com Mauricio de Sousa, resolveu produzi-las no país. O projeto, que também contou com o apoio da Agência Brasileira de Promoções de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), foi levado pela agência à Expo-Xangai 2010.

As personagens de Mauricio de Sousa estão hoje em 50 países. A Turma da Mônica está prestes a ganhar um parque temático em Angola e tem feito grande sucesso na Itália com o desenho animado do Ronaldinho Gaúcho. A estratégia de internacionalização dos personagens é comandada pelo próprio autor e por sua irmã, Maura de Sousa, que chefia o escritório da MSP em Nova York.

¿ Dali, sai o trabalho de prospecção de mercados, contatos e autorizações para agentes ¿ explica Mauricio de Sousa.