Título: Agenda positiva com os EUA
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Fonte: O Globo, 22/03/2011, Opinião, p. 6

A visita de Barack Obama e família ao Brasil pode ser considerada um sucesso. Desconfianças e ressentimentos cederam terreno às demonstrações de apreço do presidente dos Estados Unidos ao nosso país e às colocações firmes, mas às claras, da presidente Dilma Rousseff sobre os pleitos brasileiros.

Visitas presidenciais têm mais de simbolismo que de substância. Não obstante, é razoável afirmar que as relações bilaterais subiram a um novo patamar diante do reconhecimento de Obama de que o futuro, para o Brasil, já chegou; de que o país não pode ser mais tratado como um "parceiro júnior"; e, sobretudo, por sua declaração de simpatia à reivindicação brasileira de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. É a primeira vez que um presidente americano reconhece o pleito como legítimo.

Cabe agora ao Brasil executar uma política externa equilibrada e responsável para fazer jus ao papel internacional ampliado que o poder de veto no Conselho de Segurança passaria a exigir. Neste sentido, o passo adiante dado por Obama significa um crédito de confiança no governo Dilma Rousseff, quando se sabe que seu antecessor e mentor político, o ex-presidente Lula, foi executor da política externa companheira que deixou no limbo as relações com os EUA, com sérios prejuízos políticos e comerciais ao Brasil. Não é preciso alinhamento automático a Washington - e Brasília está muito longe disso - como também não cabe um "desalinhamento militante" com o país mais poderoso e maior mercado do mundo. E que, como Obama e Dilma fizeram questão de destacar, têm muitas coisas em comum.

É óbvio que os EUA, ainda em recuperação de uma profunda crise econômica e com elevado desemprego, desejam ampliar mercados para os produtos americanos. Do lado brasileiro, o interesse maior é reduzir o protecionismo americano, o que permitiria elevar nossas exportações para os EUA e cortar o déficit comercial bilateral, que chegou quase aos US$8 bilhões em 2010. Dilma pontuou isso, mas o governo brasileiro sabe que é pequena a margem de manobra de Obama, pois esse é assunto que compete ao Congresso americano, onde a Casa Branca está politicamente em desvantagem neste momento.

Se Obama e família esbanjaram carisma e simpatia no Brasil, a presidente Dilma foi bem em seu primeiro grande teste de política externa, sendo discreta, sem ser omissa, afável, sem exageros, e firme. Credencia-se, assim, para sua primeira grande viagem ao exterior, à China, em abril.

Entre os acordos firmados durante a visita, destacam-se o de Cooperação Econômica, cujo objetivo é remover obstáculos que entravam o intercâmbio comercial e os investimentos; o sobre transporte aéreo, pelo qual até 2015 as empresas poderão criar voos independentemente de reciprocidade; e o que prevê o intercâmbio de cientistas e facilita a realização de doutorado nos EUA, ampliando oportunidades para profissionais brasileiros. Na área de energia, que guarda enorme potencial de negócios entre Brasil e EUA, ambos ficaram aquém das expectativas. Limitaram-se ao compromisso de atuar na pesquisa e produção de combustível alternativo para aviação. No balanço geral, a visita de Obama abriu espaço para o otimismo. Instalada a mesa de negociação, espera-se que as relações bilaterais se desenvolvam, sem constrangimentos ideológicos ultrapassados.