Título: Risco de falta de água em 55% dos municípios
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 22/03/2011, O País, p. 13

Segundo estudo da Agência Nacional das Águas, país precisa investir R$22,2 bilhões em captação e coleta até 2015

BRASÍLIA. Um dos países com a maior quantidade de água do mundo - dono da maior bacia hidrográfica do planeta -, o Brasil pode enfrentar problemas de abastecimento, segundo diagnóstico inédito da Agência Nacional das Águas (ANA) no Atlas Brasil, documento que será divulgado hoje. Trata-se de mais um gargalo ao desenvolvimento econômico que vai se formando sem fazer estardalhaço.

Se o país não investir R$22,2 bilhões nos sistemas de captação e coleta de água até 2015, pode faltar água em 55% dos municípios do país, ou 3.059 do total. O Rio está entre os grandes centros metropolitanos mais afetados se nada for feito. Especialistas da ANA garantem que a ameaça pode prejudicar os investimentos para a organização da Copa em 2014 e para os Jogos Olímpicos em 2016.

- A indústria aduz água diretamente do rio. Hotéis e serviços em geral precisam de água da torneira, assim como empresas de menor porte pelas companhias de saneamento - disse um integrante do governo.

Cidades em risco são 73% da demanda de água do país

A abundância de água no país - o Brasil detém, hoje, 12% da água doce do planeta - acaba por mascarar uma situação grave que vai se desenhando para o futuro próximo. Segundo o estudo, os municípios que correm o risco de desabastecimento até o ano de 2015 representam nada menos que 73% da demanda de água do país inteiro. Desse universo, 84% das chamadas sedes urbanas precisam de investimentos para adequar seus sistemas produtores e 16% apresentam déficits decorrentes dos mananciais utilizados.

O estudo da ANA confirma as disparidades brasileiras e mostra que, embora o país tenha água, é preciso levá-la a todos. Segundo dados do IBGE, o abastecimento de água não chega a 21,5% das casas brasileiras ou 12,4 milhões de residências.

- O país tem água, os mananciais estão identificados. Só 16% não dão conta do recado. É preciso explorar as potencialidades do país e reduzir as deficiências - disse uma fonte da ANA.

O Norte e o Nordeste são as regiões com as maiores necessidades de recursos em sistemas produtores de água (mais de 59% das cidades). O relatório da ANA destaca a precariedade dos pequenos sistemas de abastecimento de água do Norte - onde há uma população menor, mas infraestrutura hídrica deficiente -, a escassez hídrica da porção semiárida e a baixa disponibilidade de água das bacias hidrográficas litorâneas do Nordeste. Na Região Sudeste, os maiores problemas estão relacionados à forte concentração urbana e à complexidade dos sistemas produtores de abastecimento. Isso acaba provocando disputas pelas mesmas fontes hídricas.

A capacidade total dos sistemas produtores instalados e em operação no país é de cerca de 587 m3/s. O valor está bem próximo das demandas máximas atuais (em torno de 543 m3/s), o que significa que grande parte das unidades já está no limite da capacidade operacional. Para 2025, a demanda está prevista em 630 m3/s.

O Atlas Brasil indica que o Sudeste detém 51% da capacidade instalada de produção de água do país. Em seguida, vêm Nordeste (21%), Sul (15%), Norte (7%) e Centro-Oeste (6%).

A maior parcela dos investimentos (R$16,5 bilhões ou 74% do montante) deve ser destinada a 2.076 municípios de Sudeste e Nordeste, em função do maior número de aglomerados urbanos e da existência da região semiárida. Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, juntos, reúnem aproximadamente 51% dos investimentos previstos no Atlas em apenas 730 cidades.

Nos grandes centros urbanos, a necessidade de buscar mananciais cada vez mais distantes e os investimentos em obras de regularização evidenciam a pressão sobre os recursos hídricos locais, como é o caso de São Paulo, Curitiba, Goiânia, Distrito Federal e Fortaleza. A diminuição gradativa do aproveitamento de águas subterrâneas também é responsável por grandes investimentos em novos mananciais, principalmente em capitais do Nordeste e do Norte.