Título: OMS alerta sobre alta radiação em alimentos
Autor: Marinho, Antônio; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 22/03/2011, O Mundo, p. 31

Indústria e restaurantes no Brasil importam pouca quantidade e autoridades do país aguardam orientação

RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA. A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou ontem que o nível de radiação em alimentos cultivados e produzidos em Fukushima (a 240 quilômetros de Tóquio) e arredores depois do acidente nuclear é mais alto do que se pensava. A contaminação por iodo radioativo em verduras, leite, leite em pó e água é grave, segundo Peter Cordingley, porta-voz do escritório da OMS para o Pacífico Oeste, em Manila, o que pode elevar o risco de câncer, como o de tireoide.

O governo japonês proibiu a venda de leite e espinafre, além de outras hortaliças, como alho-poró provenientes das zonas afetadas. Por enquanto, não há sinal de que esses alimentos tenham chegado a outros países. O maior problema é o espinafre de Ibaraki, com índice 27 vezes acima do nível seguro. Mas o anúncio japonês de restrição à exportação de alimentos terá pouco impacto no Brasil. Segundo a Jetro (a Japan External Trade Organization), órgão para fomento ao comércio, os brasileiros quase não importam alimentos frescos.

Segundo Yoshihiro Sawada, presidente da Jetro Brasil, as principais indústrias alimentícias japonesas no Brasil, como Yakult e Ajinomoto, trabalham com insumos nacionais. E a importação por parte dos restaurantes japoneses seria residual e sem alimentos frescos. Donos de restaurantes disseram que compram poucos produtos como algas e wasabe do Japão, uma vez que os similares chineses são de boa qualidade e têm menor preço. Em 2010, as importações do agronegócio do Japão foi de US$38,8 milhões, incluindo condimento, temperos e arroz.

Já o Ministério da Agricultura disse que o governo brasileiro só suspenderá importações de alimentos do Japão se houver orientação nesse sentido de organismos internacionais, como Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a Organização Mundial de Saúde Animal e o Codex Alimentarius. O ministério informou que os produtos que estão chegando ao Brasil saíram do Japão antes do vazamento radioativo.

Na radiação nuclear há compostos perigosos para a segurança alimentar, principalmente estrôncio, iodo e césio. Os gases expelidos pela usina danificada são voláteis e caem no solo e, ao se misturarem com outros, são inalados por humanos e animais. A água está com índice de iodo radioativo três vezes superiores ao limite, e isto a 40 quilômetros da usina.

- A situação é mais séria do que se pensou nos primeiros dias - disse Cordingley.

Ainda que o iodo radioativo tenha vida média de 8 dias e se desintegre em semanas, há risco a curto prazo para a saúde, se ele for absorvido. O césio radioativo tem vida média de 30 anos. Segundo a OMS, a radiação não atinge alimentos envasados, enlatados e embalados com plástico, enquanto a embalagem estiver intacta.

Na indústria, alguns alimentos são irradiados

Vale lembrar que a irradiação de alimentos na indústria é autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, seguindo normas rígidas. Ela serve para melhorar a conservação e reduzir a incidência de doenças por microorganismos, como bactérias do tipo salmonela, e parasitas, especialmente em frango, mariscos e carne de porco.

A técnica expõe o alimento a alguma energia ionizante: raios gama (com cobalto 60), raios X ou feixe de elétrons e é realizada numa câmara especial. A irradiação interrompe reações orgânicas que levam o alimento a apodrecer, atacando bactérias, leveduras e fungos. Também parasitas, insetos e seus ovos e larvas morrem ou ficam estéreis. Quando o alimento foi irradiado, isso deve constar no rótulo. O professor Murillo Freire, da Embrapa, diz que, nesses casos, não há risco para a saúde.

- Diferentemente do produto contaminado, a irradiação não fica no alimento. Ela atravessa e sai. A dose aplicada é muito baixa. Já as consequências para alguém que come algo com material radioativo dependerá de quantidade ingerida, peso e saúde.