Título: Resistência contra aliança
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 25/07/2009, Política, p. 10

PT está insatisfeito com o apoio de Lula à candidatura de Ciro Gomes ao governo paulista

Pesquisa do PSB aponta que Ciro Gomes teria 20% das intenções de voto em São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer empurrar goela abaixo do PT de São Paulo a candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) ao governo estadual. Mas há poucos entusiastas no partido com a empreitada. Os petistas preferem um nome próprio e esperam convencer o presidente a desistir da ideia antes de se verem enquadrados e obrigados a engolir a seco.

A resistência está nos quadros regionais, empenhados numa caravana pelo estado paulista para vender seus pré-candidatos: o prefeito de Osasco, Emídio de Souza; o deputado federal Antonio Palocci; e o ministro da Educação, Fernando Haddad. O pretexto de todo o esforço é levantar propostas alternativas aos 16 anos em que o PSDB está à frente do Palácio dos Bandeirantes. Mas, na verdade, o empenho serve para dar fôlego aos seus nomes nas pesquisas eleitorais e levantar argumentos para tentar vencer a proposta de Lula.

O prefeito de Osasco, quinta maior cidade do estado, é o preferido dos petistas paulistas. Emídio de Souza alia o desconhecimento do eleitorado ¿ para vencer uma antiga resistência que o PT enfrenta na classe média ¿, experiência administrativa (foi reeleito em primeiro turno) e nenhum escândalo nas costas. ¿Um partido com a força do PT tem que ter a pretensão de lançar candidato. Temos força eleitoral em São Paulo¿, disse Souza, reforçando que o partido não peitará a decisão do presidente.

Mesmo com uma visão que parece se chocar com a de Lula, não há ninguém que questione a estratégia de priorizar a campanha presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. ¿A escolha do candidato passa pelo presidente porque não podemos ignorar o cenário nacional. Seria uma irresponsabilidade nossa¿, afirmou Souza.

Para alguns petistas, isso não significa São Paulo ter uma única candidatura que apoie Dilma. O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, expoente da esquerda petista, é contra o apoio a Ciro Gomes no primeiro turno. ¿Seria prejudicial para a candidatura de Dilma Rousseff¿, afirmou. ¿O melhor, eleitoralmente falando, é termos duas candidaturas no primeiro turno, com compromisso de apoio mútuo no segundo turno¿, emendou.

Pesquisa

O grupo paulista do PT quer fazer uma pesquisa de opinião para saber qual candidato teria melhores condições de disputar o governo local. Na lista, seriam apresentados os nomes dos três petistas pré-candidatos e mais o de Ciro Gomes. O PSB se antecipou. Numa pesquisa de consumo interno, os socialistas dizem que o deputado alcançaria 20% das intenções de voto, num cenário que teria como candidato tucano o ex-governador Geraldo Alckmin. O percentual animou Ciro, que já tem até domicílio eleitoral na capital.

O presidente estadual do PSB, deputado Márcio França (PSB-SP), tem um tom ainda mais otimista. Acredita que a chance de um acerto com o PT em torno do correligionário está em 80%. ¿A equação deu certo para todos os lados. No PT, a esmagadora maioria é favorável. Mas ainda não é simples¿, afirmou.

Aliados de Ciro Gomes apostam que ele será candidato e que a decisão deve sair logo na primeira semana de agosto, independentemente da resistência regional. No cenário nacional, Lula fez valer sua intenção de lançar Dilma Rousseff à Presidência, apesar de todo o descontentamento da base petista. E nessa tarefa de fazer Ciro Gomes candidato, Lula tem o ex-ministro José Dirceu como aliado, que critica abertamente a teimosia regional de ter candidato próprio e não priorizar a aliança nacional.