Título: Ministra diz que Comissão da Verdade não fará revanchismo
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 23/03/2011, O País, p. 3

"O Brasil, na resposta às famílias, foi tímido", afirma Rosário; segundo ela, Lei da Anistia será respeitada

SÃO PAULO. A ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, afirmou que o país precisa criar a Comissão da Verdade para concluir a transição para a democracia. Ela assegurou que o governo - inclusive os militares - está alinhados, mas disse que a iniciativa não é revanchismo.

- Não completamos a transição para a democracia. Mais de 40 países tiveram comissões, e nenhuma surgiu para desunir o país. Em 2014 teremos completado 50 anos desde 1964. O Brasil, no que trata de dar resposta às famílias, foi tímido. Os que me antecederam tiveram vontade, mas não condições políticas. Agora temos. Não tem revanche ou ódio, pois se isso acontecesse não conseguiríamos mobilizar a sociedade.

A ministra afirmou que estuda como exemplo para o Brasil a comissão criada na África do Sul após o fim do apartheid. Naquele país, a Comissão da Verdade e da Reconciliação tinha o poder de anistiar os que apresentavam relatos completos relativos aos abusos cometidos. No Brasil, a comissão deverá respeitar a Lei da Anistia.

- Não haverá retrocesso na democracia. A comissão não fará qualquer responsabilização criminal. Punições dizem respeito aos tribunais e ao Judiciário - disse.

Rosário vistoriou ontem as buscas no cemitério da Vila Formosa (zona leste da capital paulista) pelas ossadas de Sérgio Correia e Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, desaparecidos em 1969. A viúva de Virgílio, Ilda da Silva, acompanha as buscas e ficou emocionada ao abraçar a ministra.