Título: Deputado chama ministro do STF de moreno escuro
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 23/03/2011, O País, p. 13

Joaquim Barbosa evita comentar; Júlio Campos diz que se esqueceu do nome dele e depois pede desculpas

BRASÍLIA. Na luta para não morrer de inanição diante da criação de um novo partido que levou estrelas suas de primeira grandeza, o DEM teve ontem um episódio que causou constrangimento. Durante reunião fechada da bancada do partido na Câmara para discutir a reforma do Código Penal, o deputado Júlio Campos (DEM-MT) se referiu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa como "moreno escuro".

Durante o encontro, Campos argumentava que a prerrogativa do foro privilegiado não é eficaz por acelerar processos em que autoridades estão envolvidas, já que, no lugar de quatro instâncias de recurso, ministros, governadores, prefeitos, vereadores e secretários de estado só têm uma: o STF. No entanto, Campos defende prisões especiais para autoridades.

- Essa história de foro privilegiado não dá em nada. O nosso Ronaldo Cunha Lima (ex-governador da Paraíba) precisou ter a coragem de renunciar ao cargo para não sair daqui algemado, e, depois, você cai nas mãos daquele moreno escuro lá no Supremo. Aí, já viu - teria dito, entre colegas, segundo reportagem do site G1.

Diante da repercussão negativa de sua declaração, o deputado se viu obrigado a pedir desculpas ao ministro e a divulgar uma nota redigida por sua assessoria se explicando.

"O deputado federal Júlio Campos vem esclarecer juntamente à imprensa que, quando usou a expressão "ilustre ministro moreno escuro" em menção ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, foi somente por não lembrar naquele momento o nome do magistrado. De acordo com o deputado, não houve interesse de desmerecer o ministro na expressão", diz a nota.

Líder do DEM na Câmara, o deputado ACM Neto (BA) também tentou colocar panos quentes no embaraçoso episódio:

- Na hora ele esqueceu o nome de Joaquim Barbosa. Quem estava presente percebeu que a declaração não teve nenhuma conotação preconceituosa.

O projeto de lei que altera o Código Penal deverá ser votado em plenário hoje. Entre as modificações previstas há a proibição de concessão de prisão especial para quem quer seja, a não ser que a medida vise a preservar a vida ou a integridade física e psíquica do preso.

Procurado pelo GLOBO, o ministro Joaquim Barbosa não quis comentar o episódio. Um assessor do ministro contou que o deputado telefonou para o gabinete para pedir desculpas, mas também não conseguiu falar com o ministro.